terça-feira, 30 de junho de 2009

LÔCA A PERIGO

Neste final de semana a Cantho esteve lotada, cheia de gente linda, leve e solta, prestigiando uma casa que dá VIP para bandido e está cagando para o bem-estar dos clientes. Quero só ver se essas alienadas vão ter a decência de incluir seus nominhos no abaixo-assinado para salvar A Lôca, uma das boates mais tradicionais de SP. O clube está sob o ataque de uma famigerada associação de bairro que já conseguiu fechar, no passado, lugares como o Ultralounge e o Atari. Eles alegam barulho, as casas às vezes não estão com a papelada nos trinques, e aí babau: mais uma vitória da homofobia. Bom, eu não frequento A Lôca, mas já assinei o manifesto, que pode ser acessado aqui. Vai lá também, e mostra que não é só gisele o que você tem na cabeça.

ADIÓS MUCHACHOS

É reconfortante perceber que o chavismo não consegue estender sua influência aos países maiorzinhos da América Latina. Os candidatos escancaradamente apoiados pela Venezuela perderam as eleições presidenciais no Peru e no México, justamente por causa deste apoio. Anteontem chegou a vez dos Kirchner, em parte financiados pelo Huguinho, sofrerem na Argentina sua primeira derrota eleitoral. Não deu certo a maracutaia de adiantar para junho as eleições de novembro, que visava evitar um desgaste ainda maior. O casal, que está levando a Argentina à breca, teve freada sua pretensão de se eternizar no poder. Fiu.

Enquanto isto, Chávez deita e rola com o golpe em Honduras, que lhe deu a chance de posar de defensor da legalidade. É de fuder de dar risada: o próprio Chávez comandou um golpe mal-sucedido em 92, e faz de tudo e mais um pouco para cercear as liberdades democráticas na Venezuela. Mas, por enquanto, é o único beneficiário da crise hondurenha. Seria lindo se ele também defendesse a democracia em Cuba…

TEATRO FILMADO

As exibições digitais de óperas do Met de Nova York em cinemas são um sucesso de bilheteria. Grandes shows também passam de vez em quando, saciando a curiosidade dos fãs. Agora chegou a vez do teatro: uma nova montagem de "Fedra", de Racine, está em cartaz em Londres, estrelada por Helen Mirren. Anteontem ela foi transmitida para diversos cinemas na Europa e nos EUA, sempre com lotação esgotada. Claro que teve gente que reclamou do ritmo lento e dos planos longuíssimos. Afinal, o espetáculo não foi concebido para a tela, mas para o palco. E o texto é uma sucessão de grandes "bifes", sem muita ação. Mas também teve neguinho que curtiu justamente por causa disto: a câmera se fixa no ator, sem precisar de efeitos especiais ou edição moderninha. Para quem não pode ver a peça ao vivo, é uma benção. E tomara que esta novidade chegue logo por aqui.

CRIME E NÃO-CASTIGO

Bernie Madoff nunca matou ninguém, mas arruinou milhares de pessoas. Li que ele tungou até mesmo as suadas economias de seu massagista, que perdeu tudo o que havia juntado a vida inteira. Seu esquema de pirâmide sorveu cerca de 50 bilhões de dólares, e foi o maior crime financeiro da história, Por isto, Madoff pegou 150 anos de cadeia, ou seja, prisão perpétua. Agora, alguém duvida que, se fosse no Brasil, ele sairia em poucos meses? Apesar dos nossos presídios superlotados e desumanos, parece que a Justiça brasileira tem ojeriza à punição. Fico pasmo com a decisão do Supremo de estender a progressão de pena aos condenados por crimes hediondos: por causa dela, um monstro como Elias Maluco vai ser posto em liberdade nos próximos dias. Elias tem uma quantidade imensa de crimes no currículo, dos quais a tortura e execução de Tim Lopes é apenas o mais famoso. Lopes foi baleado; ainda vivo, teve os membros decepados com uma espada ninja; ainda vivo, foi carbonizado no "forno de microondas", aquela pira de pneus e gasolina que aparece no filme "Tropa de Elite". É bom lembrar que Elias Maluco estava em liberdade condicional quando promoveu esta barbaridade. Não sei por qual critério um juiz pode achar que essa coisa não oferece perigo à sociedade. Minha vontade era de receber o sr. Maluco na saída da cadeia com ovos e tomates, para ele saber que não é bem-vindo de volta. Mas quem garante a minha segurança? Nessas horas, sinceramente, sinto um enorme desânimo com o Brasil.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O MANUAL DA BICHA-MIRIM

Como eu queria que houvesse alguma coisa como o “30 Ideias para Ajudar a Causa LGBT do Seu Jeito” quando eu me descobri homosexual, há quase 30 anos. Igual a muitas bibas adolescentes, eu tinha a nítida sensação de que era a única no mundo, e que trazia um segredo gravíssimo que deveria ser levado para o túmulo. Foi um alívio enorme descobrir que havia outros, muitos outros, como eu. E teria sido um alívio ainda maior se me tivesse caído nas mãos um texto como este, um verdadeiro manual de sobrevivência na selva. Criado por 6 blogueiros sem nenhuma ligação com ONGs ou partidos – o Thiago do Introspective, o Cris do Uomini, a Isadora do Ingrediente Desviante, o Daniel do Chato no Ar, o Gustavo do Bota Dentro e o Jack do BHY - “30 Ideias” é uma folha corrida de dicas para o pleno exercício da cidadania gay. Tem desde coisas super básicas até atividades bem específicas, como se inscrever no programa IPrEx, que pesquisa um novo medicamento contra a AIDS. Está escrito numa linguagem acessível, sem firulas nem palavras de ordem. Não é uma obra fechada: os autores estão abertos a sugestões, e não têm a menor pretensão de ditar regras. Claro que é impossível seguir tudo – talvez só a Madre Teresa conseguisse, se tivesse nascido lésbica. Mas é um resumão indispensável, que traz até telefones e endereços úteis. É digno de ser impresso e preso com um ímã na geladeira, ao lado dos números dos bombeiros e da pizzaria.

A ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO

Os documentários sobre moda estão na moda, e era só questão de tempo que alguém voltasse as câmeras para a sumo-sacerdotisa do mundinho fashion: Anna Wintour, a editora da “Vogue” americana, e inspiração para o personagem-título de “O Diabo Veste Prada”. “The September Issue” acompanha a poderosa enquanto ela prepara a edição de setembro da revista, a mais importante do ano, e está recheado de catchphrases prontas para entrar no repertório dos modernos: “Este tipo de letra é tão grande e pretensioso, que parece feito para os cegos”. Mas Anna nem de longe se mostra tão glacial e feroz quanto a Miranda Priestley do cinema: passa até por simpática e vulnerável. Vai ver que o diabo não é tão feio como o pintam.

PERDIDAÇOS

Hoje passa no canal AXN o último episódio da 5a. temporada de “Lost”, com duas horas de duração. Depois de muito tempo, hmm, perdida, a série reencontrou seu rumo quando os produtores resolveram que a 6a. temporada seria a derradeira. Isto fez com que os incontáveis mistérios começassem pouco a pouco a ser desvendados, e não mais jogados a esmo nos capítuloos. Não consegui ver todos desta vez, mas semana passada assisti uma providencial recapitulação que me deixou a par de quase tudo. E aí fiquei pensando: os personagens caíram por acaso num lugar desconhecido, muitas vezes o que se passa com eles não parece ter o menor sentido, noutras é evidente que há algo por trás de tudo, o amor e a morte podem vir para qualquer um… gente, a ilha de “Lost” existe, e se chama planeta Terra.

AS INGLESAS E O CONTINENTE

Há toda uma tradição de atrizes inglesas radicadas na França: Jane Birkin, Jacqueline Bisset, Charlotte Rampling… Kristin Scott-Thomas, indicada ao Oscar por “O Paciente Inglês”, também se mudou para o outro lado do canal ao se casar com um médico francês, e hoje filma mais por lá do que em Hollywood. Ano passado ela quase foi indicada ao Oscar novamente, pelo magnífico “Há Tanto Tempo que te Amo”, onde faz uma mulher que passou 15 anos na prisão. Aos poucos vamos sabendo como ela foi para atrás das grades: a verdade é estarrecedora, e o filme consegue ser pesadíssimo e otimista ao mesmo tempo. É a estreia na direção de Philippe Claudel, autor de vários romances de sucesso; isto talvez explique porque o roteiro é melhor que a realização, que patina aqui e ali. Mas Kristin dá um show, apoiada por Elsa Zylberstein, que faz sua irmã e venceu o César de atriz coadjuvante. Haja Kleenex.

domingo, 28 de junho de 2009

A SUSAN BOYLE BRASILEIRA


Onde que eu retiro meu Certificado Oficial de Babaca? Ontem eu chorei vendo a Stefhany no "Caldeirão do Huck". Vou repetir pausadamente. Ontem. Eu chorei. Vendo a Stefhany. No "Caldeirão do Huck". Claro que a produção do programa fez o possível para manipular os dutos lacrimais da audiência, e o trouxa aqui, que se julga tão macaco velho, caiu feito um saguizinho. A verdade é que o Brasil inteiro está torcendo para a Stefhany se dar bem, porque ela é a coisa mais parecida que temos com Susan Boyle: "umírde", "sofredora", com um vozeirão. As músicas dela ainda me fazem doer o cérebro e as coreografias são puerilmente vulgares. Mas eu vibrei quando ela ganhou um CrossFox, mesmo sabendo que é tudo merchandising. Claro que o feitiço vira contra o feiticeiro: agora também é oficial, não existe carro mais cafona que o CrossFox.

sábado, 27 de junho de 2009

FESTA SEM FIM

"The E.N.D." é o quinto disco dos Black Eyed Peas, o terceiro com a participação de Fergie e, a julgar pelo título, o último da carreira da banda. Mas seu líder, o rapper e produtor will.i.am, jura que é só uma sigla para "The Energy Never Dies", "a energia nunca morre". De fato, o álbum é agitado do começo ao fim. São 15 canções coladas umas nas outras, e não há uma única balada entre elas. Algumas são só ritmo e teclados futuristas, como o mega-sucesso "Boom Boom Pow"; outras são melodiosas, como "Meet Me Halfway" ou minha favorita, "Alive". As letras tentam ser moderninhas, mas acabam falando todas de uma coisa só: dançar. E porque não deveriam? "The E.N.D." se encaixa na categoria "festa portátil": é só tocar, que até enterro de criança fica animado. A edição especial, com a capa original em negativo colorido, ainda traz um CD bônus com inéditas e remixes que funciona com um after. A festa nunca vai acabar.

TRAGÉDIA BRAZUCA

A melhor maneira de se assistir "Jean Charles" seria não saber como acaba a história, mas claro que isto é impossível para nós, brasileiros. O filme de Henrique Goldman pinta um painel interessante dos "brazucas" vivendo em Londres, e faz do protagonista um personagem complexo: boa praça e levemente trambiqueiro, misturando o "jeitinho nacional" com uma generosidade sincera. Selton Mello nunca esteve tão bem; aliás, isto já está ficando monótono, a cada novo filme ele nunca esteve tão bem. Pena que grande parte do elenco, formado por "brazucas" de verdade e não-atores, não esteja à altura. O filme ralenta no final, depois do desenlace brutal no metrô, e termina num previsível tom panfletário. Mas merece ser visto, porque, apesar de se passar no exterior, é um pedacinho da história do Brasil de hoje.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA

Ontem o susto foi tão grande que não consegui nem pensar. As informações não confirmadas, o choque de ver um talento tão grande se extinguir tão cedo e mais uma providencial queda da internet lá em casa me fizeram subir um post sem texto, só com título e foto. Hoje a poeira baixou, e constato que a maior surpresa envolvendo a morte de Michael Jackson é que não há surpresa nenhuma: foi um fim totalmente coerente para a história absurda do cantor. Michael foi mesmo morrendo em vida, como muitos artigos estão dizendo por aí. Transformou-se num Howard Hughes do pop, recluso e cheio de manias; também foi minguando artisticamente, tanto na quantidade como na qualidade de seus discos (o horrível "Invincible", seu último opus, é do já distante 2001). Agora ele se junta ao panteão de astros tombados antes do tempo, talvez o lugar mais adequado para alguém de sua envergadura. Michael foi uma unanimidade planetária, o artista negro mais popular de todos os tempos, talvez O artista mais popular de todos os tempos. Seu embranquecimento e suas cirurgias plásticas, tão criticados, também contribuíram para que ele se tornasse um ser sem raça e sem origem, ou seja, podia ser de qualquer lugar - se bem que, nos últimos anos, parecia ser de Urano. Sua música não foi revolucionária nem trouxe grandes novidades, mas o pacote completo era mesmo fenomenal: o cara cantava, dançava e compunha com perfeição, e com um carisma raríssimo e absoluto. Foi vítima dos pais, que o exploraram quando pequeno e não o deixaram ter infância; a consequência mais trágica disso foi sua sexualidade congelada na época do troca-troca, que descambou em pedofilia anos mais tarde. Mas foi um dos grandes, um dos maiores, e o movimento por sua canonização já começou. Michael Jackson sai da vida para entrar na mitologia.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

WHO'S DEAD?

MAD-ONNA HATTER

Esta semana foram divulgadas as primeiras fotos do “Alice no País das Maravilhas” que Tim Burton ainda está filmando, e a internet inteira se maravilhou: Helena Bonham-Carter como a Rainha de Copas, Anne Hathaway como a Rainha Branca, Johnny Depp como o Chapeleiro Maluco… Alto lá: Johnny Depp? Olhe com cuidado, repare no espacinho entre os incisivos. É ela mesma. Jesus me chicoteia!

A MARCA DA PANTERA

Em 1977, todas as garotas do mundo usavam o cabelo da Farrah Fawcett em “As Panteras”. Todas, sem exceção. Naquela época, moda era pra valer, não tinha essa de “criar seu próprio estilo” ou “usar só o que lhe cai bem”. Farrah era um ícone maior do que a Gisele de hoje. Essa fama durou pouco, é verdade: ela deixou o seriado após uma única temporada para tentar carreira no cinema, que não chegou a decolar. Só mais tarde é que voltou a fazer algum sucesso, basicamente em filmes feitos para a TV. Com sua morte hoje, é mais um pedacinho da minha juventude que se vai… sniff. Mas o que me deixa mesmo puto é esse estrondoso clichê da imprensa americana, que está dizendo que ela “perdeu a batalha contra o câncer”. Gozado que é só contra o câncer que a pessoas perdem “batalhas”, nunca contra a diabetes, a pressão alta ou a esquistossomose. Então, não basta ter morrido: a coitada ainda se vai com a pecha de loser.

PALADINOS DA JUSTIÇA

Olha só que incrível esse anúncio do Conar. Deu pra ler o título? "Propaganda preconceituosa, o Conar tira de circulação". Nossa, arrepiei. Vendo assim, parecem até defensores incansáveis da igualdade e dos direitos humanos, né não? Ainda bem que tem o Conar zelando pela nossa propaganda, gente. Ah, e adivinha qual foi a agência que criou essa obra-prima? Ela mesma, a Almap/BBDO. Também responsável pelo magnífico filme "Y.M.C.A.", já devidamente entronizado na memória da publicidade brasileira, porque foi incluído no Anuário do Clube de Criação de São Paulo. Pois é, uma mão lava a outra. A conta do Conar é pro bono, ou seja, não reverte em dinheiro algum para a agência. É tudo na faixa. Mas é sempre bom, para qualquer publicitário, que o Conar lhe deva favores. Para depois, sei lá, manter um comercial homofóbico no ar. Não vou nem me dar ao trabalho de reclamar, porque não aguento mais ouvir desculpas esfarrapadas do gênero "a campanha foi aprovada em pesquisas". Essa turma não tem credibilidade. Vão tomar no Ku Klux Klan, vão.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O MAGO DA VÍRGULA

Ler saramago é sempre um desafio, porque o grande escritor português, único nobel de literatura em nossa língua, tem um estilo de pontuação muito próprio, com muitas vírgulas, e mais vírgulas, e mais vírgulas, e as frases como que não acabam nunca, e de vez quando surge um diálogo no meio delas, assim, de repente, Que lindo dia, majestade, e as primeiras palavras desses diálogos são as únicas que merecem maiúsculas, porque os nomes próprios, como catarina ou áustria, não. Dito isto, “a viagem do elefante” é quase um saramago light, para principiantes, divertido e poético, na forma e no conteúdo, narrando a jornada de um paquiderme indiano de lisboa até viena, evidentemente a pé, afinal estamos ali no século dezasseis. Dá para perceber que o autor também se divertiu ao escrevê-lo, é patente seu prazer ao incluir em sua prosa refinada uma onomatopeia como ploft, isto mesmo, ploft.

FOI PRO ESPAÇO

Tem coisa mais fora de moda que o Orkut? Tem, o MySpace. O ex-"maior site de relacionamentos do mundo" despediu cerca de 300 funcionários ontem, e fechou quatro escritórios fora dos EUA - inclusive o do Brasil. O mais cruel é que, há apenas 4 anos, o MySpace foi alvo de uma disputa feroz entre a News Corp. (dona, entre outras coisas, da Fox) e a Viacom (dona, entre outras coisas, da Paramount e da MTV). A primeira ganhou a parada, a um custo de mais de meio bilhão de dólares, só para ver primeiro o Facebook, e logo em seguida o Twitter, lhe tomarem o poder e a glória. Pessoalmente, nunca gostei do MySpace: sempre achei o site feio, sujo, um caos. Agora ele está correndo atrás do prejuízo, mas duvido que consiga se reerguer. E a pergunta que fica no ar: qual será a próxima grande moda da internet?

ALINHAMENTO DE PLANETAS

A solidariedade aos manifestantes no Irã continua, mas hoje o meu blog volta ao fundo preto e à programação normal. E, para retomar os trabalhos, nada como uma autêntica bomba de purpurina: Cher e Christina Aguilera juntas, num filme musical! Vai se chamar "Burlesque", e conta a história de uma garota do interior (Xtina) que vai trabalhar num clube de strip-tease em Los Angeles, de onde Cher é a cafetina, ops, proprietária. Isto significa que, pelos próximos dois anos, vamos ouvir quintilhões de remixes das músicas deste filme, e todos os shows de drag queen do mundo vão dublar essa colisão intergalática de divas. É uma overdose de viadagem tão grande que parece até notícia inventada.

terça-feira, 23 de junho de 2009

QUE TE QUERO VERDE

A ideia partiu do Andrew Sullivan, jornalista político americano e ativista gay conservador (sim, isto existe). Em solidariedade ao movimento no Irã, ele tingiu seu site de verde, e muita gente copiou. Vou copiar também, e não é só porque eu quero estar na crista da onda. Venho acompanhando com a maior atenção a crise iraniana, por uma série de razões. A primeira, quem diria, é mais ou menos pessoal.

Estive no Irã em 1978, numa viagem de volta ao mundo com minha avó – ela era doida e rica, e achou que, ao completar 18 anos, eu merecia dar um rolé a nível global. Passamos por 13 países, e o Irã foi um deles. Conheci Teerã, Isfahan e Shiraz; vi as jóias da coroa persa, que botam as da inglesa no chinelo; passeei nas ruínas de Persépolis; e achei, no geral, o povo muito antipático. Talvez estivesse captando no ar os sinais de desconforto, porque, seis meses depois da minha visita, o xá caiu, em meio a uma revolta popular sem precedentes no Oriente Médio. Fiquei impressionadíssimo, e li tudo o que me caiu nas mãos a respeito. Foi o primeiro grande caso internacional que segui de perto. E até hoje a Pérsia , como dizia vovó, me fascina: a ditadura islamo-fascista é apavorante, mas por baixo da casca existe uma sociedade vibrante e sofisticada.

Agora esta casca está prestes a ser rompida. O bom de ser blogueiro é que a gente não precisa fingir imparcialidade; podemos torcer apaixonadamente. Para deixar claríssimo de que lado eu estou, mudei a cor do blog por um dia, pela terceira vez. Verde é a cor de Moussavi, dos manifestantes contra a fraude eleitoral, da juventude e dos moderados. Também é a cor do Islã. Hoje estou de verde.

A VOZ DAS RUAS


Quanta gente já morreu nos conflitos de rua no Irã? Os números oficiais falam em 19 pessoas, mas devem ser muitos mais. Esses mártires todos já tem um rosto, um nome e um símbolo: Neda Agha-Soltan, a moça que sangrou até a morte em frente às câmeras. Por uma dessas coincidências cósmicas, “Neda” em persa quer dizer “chamado”. Neda é a voz que chama a galera para as ruas. Quantos a ouvirão? Disso depende o futuro do país.

(Antes de ver o vídeo, um aviso: ele é super gráfico e violento. Coragem.)

E O KIKO?

Aí alguém vai me perguntar, e o que é que nós no Brasil temos a ver com isto? De fato, o Irã é longínquo. Compra apenas 0,3 % das exportações brasileiras – sim, três milésimos. Mas o que acontece lá pode, simplesmente, desencadear a 3a. Guerra Mundial. Também é uma prova de fogo para os fundamentalistas: o fracasso da “república islâmica” vai desinflar o ímpeto de fanáticos como o Taliban e a al-Qaeda, que sonham em instalar um califato planetário. E é sempre bom lembrar que os aiatolás a-do-ram enforcar homossexuais. Não há números oficiais, mas dizem que mais de 40.000 gays e lésbicas já foram executados desde que os turbantes chegaram ao poder.

Neste imbroglio todo, é patético ver Lula continuar defendendo Ahmadinejad. Na primeira vez, vá lá: ele estava mal informado, ou desinteressado como sempre. Mas a segunda é imperdoável. Impressionante como há setores na esquerda brasileira que ainda têm uma mentalidade dicotômica, da Guerra Fria, que divide o mundo em apenas dois campos, “nós” e ”eles”. Assim, todo mundo que for contra os EUA está automaticamente do nosso lado e, portanto, é incapaz de errar. Ora, ora, ora. O que está em curso no Irã é um golpe militar: a Guarda Revolucionária, a elite do exército local, está arrancando o poder das mãos dos aiatolás, que não têm outra opção a não ser aceitar tudo de bom grado. Quem diria, o PT apoiando os milicos, hein?

A REVOLUÇÃO NÃO VAI SER TELEVISIONADA

O que está acontecendo no Irã também representa uma mudança de paradigma. Marca o início para valer das revoluções cibernéticas, muto mais difíceis de reprimir. Lembro bem da primeira Guerra do Golfo, a de 91, que foi quando a CNN estourou. Agora estamos vendo o ocaso desse estilo de jornalismo: a CNN e vários outros canais comeram bolas homéricas no Irã, e foram rapidamente suplantados pelo Twitter e pelo Facebook. Verdade que nem todo tweet é verdadeiro. Pululam notícias falsas, ou simplesmente impossíveis de ser verificadas. Mas o jogo mudou, e muito mais rápido do que se esperava.

ALLAH-U-AKHBAR

Hoje os seguidores de Mir Hussein Moussavi convocaram uma greve geral no Irã. Não sei se vão ter sucesso, mas estou rezando por eles. Sei que Moussavi não é flor que se cheire, e que mandou matar milhares de oposicionistas quando foi primeiro-ministro nos anos 80; mas, como diria a Lindinalva, “é o que temos para o momento”. Também acho que o movimento ainda está muito incipiente para que se vislumbre agum tipo de vitória no horizonte. Mas a roda da história está girando, e ninguém vai conseguir fazê-la parar. Os verdes tomaram para si o grito de guerra que derrubou o xá há 30 anos, “Allah-u-Akhbar”. Deus é grande.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

BLACK EYED PEREZ


Chupei o título que o "Daily Beast" deu para essa história, porque é humanamente impossível alguém criar um nome melhor. Te contei não? O fofoqueiro-mor Perez Hilton estava em Toronto, participando da entrega dos prêmios da Much Music, a MTV canadense. Cruzou com o pessoal dos Black Eyed Peas, houve uma troca de xingamentos (Perezito andou falando mal da banda em seu blog), e aí os seguranças do will.i.am não tiveram dúvida: boom boom pow! Um segundo depois Perez já estava twittando sobre o assunto, e minutos depois já havia subido um vídeo no YouTube chorando as pitangas. Aí em cima são só os "melhores momentos": a versão completa pode ser vista aqui. Claro que o líder dos Peas também gravou seu lado da história, e agora todo mundo está processando todo mundo. Pô, esses seguranças bem que podiam estar trabalhando na área VIP da Cantho.

FORA, SENADO

Há um ano e meio, no auge do escândalo do Renan Calheiros, escrevi um post onde questionava a necessidade de termos um Senado. E terminava dizendo que estava pensando no assunto, mas que não tinha opinião formada. Agora tenho: fora, Senado, fora, senadores, fora, fora, fora. Não só o "Canalheiros', não só o Sarney/"Batatinha", mas todos, sem exceção. Todos. Fora.

Veja bem, não estou propondo o fechamento do Congresso. De maneira alguma. Mas acho uma excrescência termos uma câmera alta e uma baixa - ainda mais quando a alta só serve para dar acesso a seus membros a uma miríade de benesses, e protegê-los das leis às que os cidadãos "comuns" estão submetidos. Nossos garbosos senadores são rápidos em dizer que a "democracia está ameaçada" quando alguém os critica, mas a triste verdade é que existem muitas democracias que prescindem de Senado e funcionam muito bem (Portugal é uma delas). Proponho um Parlamento só, com voto distrital. Alguém é contra?

VENTURA BOA

Trabalhei com Daniel Boaventura há dez anos, na sitcom "Santo de Casa" da Band: eu era um dos roteiristas e ele, o ator principal. E que ator - bonito, engraçado e carismático, temperado com um leve sotaque baiano. A série durou pouco, e não tivemos tempo de usar seus talentos musicais (Daniel também canta, dança e toca saxofone). Mas tinha certeza que dali ele iria para alguma novela da Globo e estouraria. Bom, Daniel foi para a Globo, mas nunca lhe deram um papel à altura. Estes ele encontrou no teatro, onde estrelou uma penca de musicais transplantados da Broadway: "Company", "A Bela e a Fera", "Victor ou Victoria", "Chicago", "My Fair Lady". Era só questão de tempo ele lançar seu primeiro CD. "Songs 4 U' acaba de chegar às lojas, e é todinho cantado em inglês. Faço ressalvas ao repertório: teria ficado melhor se fosse restrito aos standards americanos, ao invés de incluir babas dignas da Alpha FM. Mas quando acerta o alvo, Daniel Boaventura quase vira um Sinatra brasileiro. Confira sua versão de "Fly Me to the Moon", e viva Las Vegas.

domingo, 21 de junho de 2009

LOCA LIVIN´ LA VIDA

E por falar em cojones: Ricky Martin se assumiu! OK, qualquer pessoa que não seja cega e surda já havia sacado faz tempo a sexualidade do cantor boricua. Mesmo assim, é de se admirar a coragem do rapaz, que é ídolo de garotinhas desde que ele próprio era garotinho, e numa cultura machista e retrógrada como a da América Latina. Nada como um dia atrás do outro: Ricky tem hoje 38 anos, e seu público também cresceu. De qualquer forma, há muito tempo que circulavam boatos sobre seu namoro com Robbie Rosa, seu ex-companheiro de Menudo e produtor de vários de seus discos quando adulto. Ano passado Ricky teve gêmeos, e contou sem problemas que havia requisitado os serviços de uma mãe de aluguel; depois disso, acho que só a velhinha de Taubaté continuou na dúvida. A bem da verdade, na entrevista à revista portorriquenha "TV Aquí", ele se dclara bissexual. Zuzo bem, um dia eu também me declarei bissexual, e até hoje ainda acho uma certa graça em mulher. Mas na prática, hehehe, sacumé, né? Ricky Martin, felicitaciones: você é deslumbrante, por dentro e por fora.

sábado, 20 de junho de 2009

NOTÍCIA PARA QUEM PRECISA

Os dois personagens principais de "Intriga de Estado" são um repórter à moda antiga e uma blogueira moderninha. Achei que o filme proporia uma discussão sobre a origem e a validade das informações nos dias de hoje - ainda mais pertinente nesta semana, em que caiu a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para se exercer a profissão no Brasil. Mas o foco da trama está mesmo numa investigação sobre um escândalo que envolve política, sexo e uma empresa de mercenários que é obviamente a Blackwater. Isto não é mau: o roteiro é um labirinto interessante, e o elenco está repleto de rostos conhecidos (pisque e você perderá a divina Viola Davis, numa ponta como uma médica). Russell Crowe está bem como sempre, mas parece que vai explodir se comer um misto quente. A surpresa é Ben Affleck, que nunca esteve tão bem, como um senador em sérios apuros. Ah, de vez em quando é bom ver um filme para adultos.

PAU E MÁRMORE

Com a abertura do Museu da Acrópole, em Atenas, fica cada vez mais difícil para os ingleses justificar a posse dos Mármores de Elgin, exibidos no Museu Britânico há quase 200 anos. Os mármores são parte do friso do Partenon, e foram retirados em 1809 por Lord Elgin, o embaixador britânico no Império Otomano. Na época a Grécia fazia parte desse império, e o diplomata fez tudo com autorização do paxá, interessado em puxar-lhe o saco. Sim, os mármores foram um presente pessoal para Elgin: imagine o escândalo se algo parecido acontecesse nos dias de hoje. Anos depois, sem um tostão, lord Elgin vendeu as peças para o grande museu de Londres. No final do século passado, a Grécia começou a exigir a devolução das antiguidades. E a Grã-Bretanha, arrotando arrogância, retrucava que os gregos não tinham um lugar decente onde guardar os mármores. Agora têm: o novo Museu é absolutamente sensacional, tanto na arquitetura como no acervo (veja mais fotos aqui). Numas de fazer as pazes, os caras-de-pau dos ingleses até ofereceram emprestar os Mármores de Elgin por três meses - contanto que a Grécia reconhecesse de uma vez por todas que eles pertencem por direito à Grã-Bretanha. Mas o orgulho dos gregos também é feito de mármore, e claro que eles não toparam. Pois eu acho que deveriam topar, e depois simplesmente se recusar a devolver as peças. Qual é, inglesada, vai encarar?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

CONVOCAÇÃO GERAL

Acho que a Parada do Orgulho de Gay de São Paulo é a única do mundo que costuma registrar um saldo de mortos e feridos. Alguém me corrija se eu estiver errado, mas as paradas de lugares como Moscou - onde é proibida pela prefeitura e reprimida pela polícia - ou Jerusalém - que enfrenta a sanha dos judeus ortodoxos - não terminam em tanto sangue como a nossa. Digo e repito que a culpa de tanta porrada não é da Parada em si: é do pendor brasileiro para a violência em grandes aglomerações. Por isto é importantíssimo, fundamental, indispensável, que um número enooorme de pessoas compareça à Praça da República amanhã, dia 20 de junho, às 19 horas. A organização da Parada convocou um protesto contra os ataques homofóbicos que vários participantes sofreram durante o evento. Uma pessoa já morreu, outras continuam hospitalizadas em estado grave. Somos todos devedores à Parada, que nos deu visibilidade, alguma força política e muito dinheiro para a cidade, que tem nela agora o seu maior acontecimento turístico do ano. E somos todos responsáveis pela imagem dela, que não pode mais ser confundida com uma micareta selvagem. O que acontece amanhã é protesto: como bem avisou o Marcelo Cia, não vai ter música, não vai ter festa, não vai ter colocón. Deixe tudo para mais tarde, e venha para a Praça da República amanhã, às 19 horas. Faça algo por si mesmo, ou depois não reclame.

(Ah, e antes que me critiquem: não vou estar em SP neste fim de semana. Já estava de viagem marcada para cuidar do meu marido Oscar, que passou por uma pequena cirurgia no Rio de Janeiro. Mas vou estar na República em espírito: se você sentir alguém passando a mão na sua bunda e não houver ninguém atrás, pode crer que é o meu espírito, esse canalha.)

CONFETE FASHION

Não sou muito fã de animê, nem de Louis Vuitton. Mas a semana foi especialmente pesada - teve bomba na Parada, o Irã está uma bagunça, e estou com uma daquelas gripes que não trepa nem sai de cima. Então, se qualquer pedaço de papel colorido já me faz sorrir, imagine um filminho de três minutos assinado por Takeshi Murakami. Acho ainda mais graça quando ele mostra a consumidora padrão da LV: uma garota de uniforme escolar. Mas é claro.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

C'EST UNE CHANSON QUI NOUS RESSEMBLE

Uma amiga comentou no Facebook que Iggy Pop cantando "Les Feuilles Mortes" era o máximo. Fui atrás e descobri que é verdade. Mesmo com um sotaque francês meio gauche, o roqueiro veterano empresta seu charme para esse clássico da chanson. Baixe aqui a faixa, que abre seu novo CD "Préliminaires". Adoro o nome e adoro a capa, desenhada pela iraniana Marjane Satrapi, a autora do meu querido "Persépolis".

CHER, CHAS, CHAZ

Não deixa de ser engraçado que justo a filha da Cher, talvez a mais aviadada de todas entre as muitas cantoras aviadadas, seja lésbica. Ou melhor, transexual: Chastity Bono iniciou no ano passado o longo processo médico que irá transformá-la em homem, e que só deve terminar em 2010. Este tipo de trans (de mulher para homem) é bem mais raro do que o inverso, talvez porque os procedimentos cirúrgico sejam mais complicados e menos avançados do que nos outros casos. De qualquer forma, acho que qualquer trans tem cojones de ouro, porque é preciso muuuita coragem para enfrentar uma operação dessas. Chaz (ela/e já é chamada/o assim há alguns anos) além de tudo é ferrenha/o ativista gay, e tem todo o apoio de mami. Cher pode ser louca mas não é burra: jamais faria como Donna Summer, que certa vez se declarou contra os gays e levou anos para recuperar seu maior público.

LULISTÃO

Impressionante como o Lula adora se fantasiar com trajes típicos. Alguém aí já viu o Sárkozy de baiana, ou o Gordon Brown de índio? Mas nosso presidente acha que, graças a seu charme e veneno, pode tudo, sua claque sempre vai achar fofo. Seria bom se ficasse apenas no figurino - ele agora está no Cazaquistão, onde deve ter tido reuniões com Borat, seu equivalente intelectual - mas Luís Inácio continua falando merda a respeito do Irã, provavelmente pautado pela besta-fera do Marco Aurélio Garcia. E para desespero do Celso Amorim, que deve morrer de constrangimento numa hora dessas. Dizem que Lula sonha com um alto cargo em algum organismo internacional depois de seu mandato, e que por isto é tão leniente com ditaduras e teocracias. Se for este mesmo seu plano, ele deveria aprender a falar bem pelo menos uma língua, uma única que fosse, quiçá o português. Porque, do jeito que está, parece a própria Ofélia, daquele antigo quadro do "Balança Mas Não Cai", a quem o marido sempre mandava calar a boca.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A ILHA DO ARREPIO

A melhor coisa do Martin Scorsese ter finalmente ganho um Oscar é que agora ele pode fazer filmes simplesmente divertidos, sem maiores pretensões artísticas. Mas claro que, sendo o melhor diretor do mundo, ele não faz porcaria nem por decreto-lei. O trailer de "Shutter Island" caiu na rede esta semana, e dá para perceber que, nas mãos de qualquer outro, seria mais um terrorzinho classe B. Mas Marty (olha o íntimo) consegue atrair um elenco A+, do qual Leonardo Di Caprio é apenas o mais famoso. E com seus enquadramentos primorosos e a edição de Thelma Schoonmaker, a melhor editora do mundo, já temos um programa obrigatório em outubro, quando o filme estreia. Meeedooo, no bom sentido.

O PROBLEMA É O BRASIL

Ano passado assisti à Parada Gay de Nova York. Não é a maior do mundo há muito tempo, mas é a mais antiga: afinal, foi em NY que aconteceu o levante de Stonewall, o marco zero do movimento gay moderno. Apesar do downsizing, o evento continua grandioso. O desfile desce toda a 5a. Avenida até o Greenwich Village, num percurso mais longo e demorado que o paulistano. O trânsito é interrompido na via principal, mas, curiosamente, não nas transversais. Isto quer dizer que de vez em quando o sinal fecha, a Parada pára, e dezenas de carros atravessam na frente dela. Tudo na maior civilidade, sem brigas nem quebra-quebra. Aliás, neste ponto o contraste com SP não podia ser maior. As calçadas de lá ficam cheias sim, mas não abarrotadas como aqui. Como nos primórdios da de SP, ainda está repleta de velhinhos e crianças na plateia – e, ao contrario da nossa, também nos carros. Sim, muitos desses carros são apelativos, com go-go boys quase pelados e drag queens obscenas. A imprensa americana também questiona se esse deboche ajuda à causa. Alguns lembram que, nas passeatas pelos direitos civis dos anos 60, os negros apareciam vestidos da maneira mais conservadora possível, de terno e gravata, para passar seriedade e desarmar o espírito dos racistas. Outros retrucam que aquelas eram marchas explicitamente políticas e a Parada é, antes de qualquer outra coisa, uma festa. A de Nova York é uma festa cívica, e consequente. E ainda existe uma diferença crucial: é proibida a venda de bebida alcóolica.

Seria fantástico se fosse decretada a Lei Seca ao longo de toda a Parada de São Paulo. Mas duvido que fosse exequível: meia dúzia de gatos pingados seriam presos, e o resto continuaria comprando, vendendo e bebendo seu goró. E se embebedando, e brigando, e dando marteladas nas cabeças dos outros. Muita gente está criticando a avacalhação geral da Parada nos últimos anos, mas acho importante perceber que este fenômeno não se resume a ela. Hoje em dia, qualquer festejo de rua no Brasil – seja a banda de Ipanema, uma vitória no futebol ou uma porta de boate – descamba em bebedeira e pancadaria, muitas vezes com vítimas fatais. Quais as causas de tanta violência? Não estamos mais pobres que no passado, nem mais reprimidos. Muito pelo contrário. Mas talvez estejamos mais mal-educados. Tudo é pretexto para extravasar um instinto selvagem, uma raiva surda não se sabe do quê, uma vontade louca de matar o outro. Vários países tiveram problemas parecidos: basta lembrar da Inglaterra, tão civilizada, e seus pavorosos hooligans. Sei que é fácil criticar, e de fato não tenho a menor ideia de como resolver esse problema. Uma reforma profunda no sistema educacional só vai gerar frutos daqui a uma geração. Uma mudança cultural é algo tão sísmico que não se pode prever nem controlar. Que o formato da Parada precisa de mudanças, e para ontem, todo mundo concorda. Mas o Brasil também precisa. Talvez quebrar o tabu de que ser brasileiro é o máximo, e discutir seriamente nossas tendências para o vandalismo, seja um começo.

(P.S.: também estou chocado com o espancamento de uma pessoa – um amigo meu - em plena área VIP da Cantho, uma das boates mais conhecidas de São Paulo. Fora o despautério da cena, choca o fato de ninguém do staff da casa sequer ter percebido a agressão e socorrido o rapaz. Esse descaso faz com que os agressores se sintam autorizados a agir assim, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Nunca fui à Cantho, e agora que não pretendo ir mesmo. Além do mais porque a casa deve fechar as portas em breve, de tanta reza brava que estou fazendo.)

OS MELHORES AMIGOS DE UMA GAROTA

Um conjunto de colar e brincos de diamantes da Dior, avaliado em 400 mil dólares, sumiu durante uma sessão de fotos de Lindsay Lohan para a “Elle” inglesa. A Scotland Yard suspeita de todo mundo, inclusive da (ex?) atriz. Vai ver que ela roubou na maior inocência, só para voltar às manchetes. Ou então é influência da Winona Ryder, que foi capa da mesma revista no mês passado. Enfim, um diamante é para sempre. E ficha na polícia também.

terça-feira, 16 de junho de 2009

NOSSO HOMEM EM TEERÃ

Acabei de receber um e-mail do meu amigo Raul Juste Lores, correspondente da "Folha de São Paulo" em Pequim, mas que está neste momento em Teerã, cobrindo a palhaçada das eleições presidenciais. Ele recebe meus posts por feed, mas não consegue comentar de volta. O regime iraniano, que o Lula jura ser democrático, bloqueou o Blogspot, o Facebook, o Twitter e muitos outros sites. Então transcrevo aqui o que o Raul me mandou lá do Irã, a respeito do meu post abaixo, "Aiatolula":

"Tony, querido,
se eu pudesse, te escrevia um megaelogio no blog, mas está bloqueado em Teerã. A repressão aqui está violentíssima, gente armada por todos os lados. O governo iraniano acaba de expulsar todos os jornalistas estrangeiros (por que será??) então terei que viajar amanhã de volta a Pequim... Marco Aurelio Garcia disse que não havia prisão de opositores... bem, minha maior fonte aqui, um ex-vice-presidente reformista, foi preso esta manhã... o Brasil está fazendo um megapapelão, só isso... beijos"


Estou rezando para que o Raul saia de lá inteiro, num pedaço só, como chegou. A coisa tá cada vez mais preta. Por outro lado, tenho uma certa invejinha: o cara está de testemunha ocular da história, presenciando um momento importante desse começo de século 21. Boa viagem de volta à China, Raul, e continue mandando seus textos maravilhosos para o Brasil. Ah, e quem quiser acompanhar mais de perto as aventuras dele na Ásia, deve visitar agora mesmo o blog Raul na China.

AIATOLULA

Até aque eu tento ter alguma simpatia pelo Lula, mas o presidente parece que se esforça para se encaixar no esterótipo do bestalhão com tendências autoritárias. Fiquei passado no azeite de dendê quando li que ele comparou os protestos em Teerã a uma partida de futebol: “Eu não conheço ninguém, a não ser oposição, que tenha discordado da eleição no Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto é apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos”. Claro que tem número, senhor presidente, leia os jornais. Ah, esqueci que o senhor não gosta de ler. Assim fica difícil, né? Pois se lesse um tiquinho além dos cadernos de esportes, saberia que os aiatolás e a Guarda Revolucionária acham que o mundo inteiro é idiota, tão capenga é a fraude que estão cometendo no Irã. Pelo visto a carapuça serviu no senhor.

WHAT EVER HAPPENED TO EDIE BEALE?

Ontem a HBO Brasil começou a exibir "Grey Gardens", dois meses depois da estreia do telefilme na TV americana. Fiz um post a respeito na época, com trailer e tudo, e estava doidinho para assistir. Não me decepcionei: "Grey Gardens" entrega mesmo tudo o que promete. A história das duas Edie Beale, mãe e filha, ex-milionárias arruinadas que vivem numa mansão caindo aos pedaços, tem glamour, humor, loucura e uma boa dose de drama psicológico. Lá pelas tantas a atmosfera sufocante me lembrou "O Que Aconteceu a Baby Jane?", o clásico camp com Bette Davis e Joan Crawford. Mas aqui o clima não é exatamente de terror, pois Edie sr. e Edie jr. têm amor de verdade uma pela outra, e um senso de dignidade que emerge intacto do meio da sujeira e do esquecimento. Quem assina HBO não deve perder: os horários das próximas exibições podem ser conferidos aqui.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

DE REPENTE, UM DESASTRE

Os filmes de temática gay são tão raros no Brasil que, quando surge algum, a bicharada em peso corre para o cinema. Um dos programas obrigatórios nesse feriadão da Parada em SP foi “De Repente, Califórnia”, eleito pelo público como o melhor filme do Festival Mix Brasil de 2007. De fato, são muitas as belas intenções e os belos cenários – mas estes, infelizmente, são prejudicados pela exibição digital, que se encarregou de deixar tudo sombrio e sem contraste. E aquelas são enterradas por um roteiro frouxo e ultrapassado, polvilhado de açúcar. Custo a acreditar que um rapagão de 20 anos, vivendo nos dias atuais numa praia cheia de outros rapagões semi-despidos, nem desconfie dos próprios desejos homossexuais. E o responsável por despertar esses desejos parece saído diretamente de uma novela da coleção “Sabrina”: lindo, rico, resolvido, bom cozinheiro e louco por crianças. Quer dizer, suuuuper parecido com a primeira experiência gay de muita gente. Adoro finais felizes, mas sem um começo e um meio à altura, nem o filme mais simpatizante do mundo vale a pena.

RENASCIDOS DAS CINZAS

Acordei com a cabeça levinha, sem a zoação de tantas noites de agito e balada. Mais um dia bonito em SP, e a trilha sonora perfeita para hoje é o novo CD da banda francesa Phoenix. Já tinha desistido dos caras: os últimos discos estavam bravinhos demais, sem a descontração do começo. Mas em "Wolfgang Amadeus Phoenix" eles chamaram de volta o produtor do primeiro disco, Philippe Zdar, e retornaram ao pop assobiável e saltitante. O vocalista Thomas Mars é casado com Sofia Coppola, que pelo jeito só gosta de homens moderninhos - antes ela casou com Spike Jonze e namorou Quentin Tarantino. A moça tem bom gosto; comprove baixando "Lisztomania" aqui e "1901" aqui, as duas melhores faixas do álbum. Dá até pra encarar a volta ao trabalho numa boa.

PEGA LADRÃO

Tá mais do que na cara que as eleições no Irã foram roubadas. Os indícios são muitos. Para começar, o comparecimento às urnas foi de 75% - altíssimo para um país onde o voto não é obrigatório. Quando Ahmadinejad foi eleito pela 1a. vez, em 2005, o comparecimento foi de 51%, porque muitos moderados decidiram boicotar a votação. Dessa vez não houve boicote, e mesmo assim o conservador leva no 1o. turno? Sendo que mais de 70% da população tem menos de 30 anos, ou seja, são jovens exaustos das restrições dos aiatolás. O resultado dessa vez foi anunciado poucas horas depois do fechamento das urnas, quando em outras ocasiões levou até três dias - e não há voto eletrônico, é tudo em papel mesmo. É humanamente impossível contabilizar tantos votos por escrito em tão pouco tempo. A fraude foi tão grosseira que Moussavi não teve nem 1% dos votos em Tabriz, sua cidade natal, onde era tido como franco favorito. A verdade é que os líderes religiosos ficaram com medo de perder a teta onde mamam há anos. A eleição provavelmente iria para 2o. turno, com tendência de vitória para a oposição. Khamenei achou melhor melar tudo de uma vez. Este resultado é o pior possível, pois agora o Irã fica com um presidente sem legitimidade, e sem o menor preparo para conduzir um país tão grande. Pior para os iranianos, e pior para o mundo.

domingo, 14 de junho de 2009

A MAIOR ÁREA VIP DO MUNDO

Sexta não tive forças pra nada. Depois de me jogar quarta e quinta, precisei de um descanso - afinal, não tenho mais o vigor dos 47 anos. Mas ontem, mesmo ainda cansado, me juntei a um bando de amigos e tocamos pra The Week. O clube estava intransitável, mas valeu a pena: Peter Rauhoffer tocou divinamente como esperado, apesar de não ligar a mínima para o público. É o oposto de sua culega Offer Nissim, que sempre dá um show e parece nunca encostar nos controles.

A muvuca da noite me encheu de preguiça para encarar outra de dia. Acordei decidido a ignorar a Parada. Mas o dia estava ensolarado e bem menos frio do que ontem, então resolvi cumprir meu dever cívico. Catei o Oscar e galgamos sete quadras até a Paulista. Chegamos lá às três, uma hora mais cedo que no ano passado, e mesmo assim perdemos tudo. O último carro já havia passado, e só um mar de gente tomava conta da avenida. Depois fiquei sabendo que a Parada correu mesmo destrambelhada, com pressa, frustrando o povo e as expectativas.

Mortos de fome, fomos abrindo caminho até o Frevo, na rua Augusta, que faz o melhor beirute de SP e onde eu não pisava há anos. Conseguimos uma mesa bem na janela, e tivemos nossa paradinha particular. Muita gente descia a rua, de todos os tipos e tamanhos. Montadas, caricatas, horrorosas, um go-go boy só de tapa-sexo e plumas negras na cabeça, casais homo se beijando à luz do dia, moleques se embriagando de vinho barato. Depois subimos de volta para a Paulista: eram cinco da tarde, os carros já iam longe, mas a multidão ainda dominava a avenida.

E aí foi me dando uma sensação gostosa, o contrário do chocho que o evento vem levando nos últimos anos. Ao invés de achar tudo um nojo, uma aberração, uma sujeirada, fui me encantando com os viadinhos da periferia rebolando e se agarrando sem medo. Esses garotos vivem bem longe dos bares e boates da moda, numa realidade onde podem apanhar ou até mesmo levar um tiro a qualquer momento. Mas neste domingo, não: a cidade é deles, são os donos da festa, muito mais vitais que qualquer ONG ou discurso. Hoje ninguém ouse criticá-los. Sim, é a carnavalização típica da sociedade brasileira, onde num dia se pode tudo e no outro a vida volta ao "normal". Mas pelo menos por algumas horas eles são queridos e importantes, e transformam a avenida Paulista na maior área VIP do mundo.

sábado, 13 de junho de 2009

ÉPOUSTOUFLANT

Fui ver o filme francês "Stella" por uma única e simples razão: meu noivo secreto, o cantor Benjamin Biolay, faz uma participação. O papel dele é pequeno: o pai boêmio da protagonista, uma menina de 13 anos com problemas de adaptação na escola. Mas parece que a Academia de Cinema da França gosta dele tanto quanto eu, porque o indicou para o César de melhor ator coadjuvante. Ele não está mal, mas o que continua a me tirar o fôlego é mesmo sua beleza. Cada vez que ele surgia na tela eu perdia o fio da meada da história. Bom, o filme em si é simpático e está cheio de hits franceses dos anos 70. Mas com uma trilha assinada pelo Biolay teria ficado ainda melhor, dommage.

VIADINHO DAS ÍNDIAS

Ontem à tarde fui asistir à palestra de Gilles Wullus, o editor da "Têtu", a mais importante revista gay da França. O cara é um ursão loiro simpático e contou um monte de potins do mercado editorial francês, mas confesso que minha atenção ficou algo prejudicada depois que o príncipe Mavendra Singh Gohil adentrou o recinto. Sua Alteza até que estava vestido discretamente, de túnica azul e bindi vermelho na testa - sem turbante e sem nada que lembrasse os figurinos da novela (aliás, um amigo indiano me disse que as roupas do "Caminho" estão tão over que é como se numa novela que se passasse no Brasil todo mundo se vestisse de Carmen Miranda). Veio com dois asseclas e interveio num único momento na palestra. Não, não foi para fazer nenhuma pergunta: foi para agradecer a matéria que a "Têtu" fez com ele ano passado. Ou seja, deu um jeito de avisar todo mundo que saiu na revista. Acho digno, afinal o cara é um leão de coragem (e é isto que significa "Singh" em hindi). Se não é fácil se assumir por aqui, imagine num país onde a homossexualidade ainda dá cadeia.

MONAS PELADAS

Ninguém resiste a uma celebridade sem roupas. Hoje apareceram duas. Uma é ninguém menos que a Mona Lisa, que surge de peitos ao vento num quadro descoberto dentro de uma parede, numa biblioteca na Itália. Os especialistas ainda vão decidir se o autor é mesmo Leonardo Da Vinci ou algum de seus seguidores, mas as coincidências com a Gioconda vestida são muitas: a posição das mãos, a paisagem ao fundo e as sobrancelhas raspadas. Só o sorriso não está mais tão enigmático. O outro peladão famoso é Dustin Lance Black, o roteirista que ganhou o Oscar por "Milk". Fotos dele "em ação" caíram na rede, e muita gente está escandalizada. Eu não: acho que ele está batendo um bolão, em város sentidos. Clique aqui se não estiver no trabalho, e bom proveito.

(João, obrigado por mais uma dica)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

LA NUIT DU GRAND VISAGE

Já disse aqui no blog uma vez: junte-se um bando de reecas e pheenas num ambiente requintado, e o que acontece? Carão, claro. Foi um pouco o que aconteceu na festa V.I.P na Daslu ontem à noite. A imponência do lugar intimidou a galera e a iluminação, bem mais clara que a de uma boate, impedia maiores arroubos. Mesmo assim, foi uma delícia participar de uma festa gay num lugar desses; afinal, como diz Joãozinho Trinta, quem gosta de miséria é intelectual. Pobre e bicha gostam de luxo. Pena que a ordem dos DJs foi invertida e Iordee, que faz um som bem mais criativo que o baticum nosso de cada dia, foi o último a entrar, quando a lotação já tinha diminuído bastante. Mas bem no finzinho a festa foi transferida para um terraço fechado com vista para a Marginal; o sol nascendo e as bees finalmente descamisadas deram um fecho de ouro. Glen e Cláudio, os 2 Meninos, exaustos e felizes, finalmente se jogaram. Agora estão prometendo uma nova V.I.P no dia 11 de outubro, no Copacabana Palace, para aproveitar a Parada carioca. Lá estaremos.

(na foto: Tiago "Wintour" Pavinatto, pelo celular de Alexandre Lucas)

APENAS O COMEÇO

A juventude é uma invenção da modernidade. Antigamente, passava-se diretamente da infância à idade adulta: mocinhas se casavam assim que menstruavam, rapazes iam para a guerra com 14 anos. Hoje em dia existe a adolescência, e eatá cada vez mais longa e interminável. Em "Apenas o Fim", um casal de namorados termina o primeiro relacionamento sério de suas vidas, e fala, fala, fala, fala. E fala de tudo: a tristeza do rompimento é amenizada com diálogos tarantinescos, recheados de referências pop, ao He-Man, à Fanta Uva, a Britney Spears. Erika Mader, sobrinha da Malu, tem uma graça e um frescor irresistivelmente cariocas; Gregório Duvivier parece uma criança de barba, mas tem um timing de comédia impressionante. O filme foi todo rodado dentro da PUC-Rio, aparentemente usando um celular - a produção inteira deve ter custado uns 27 reais. Causou furor nos festivais onde foi exibido, e vale a pena ser visto porque revela um grande talento: o diretor e roteirista Matheus Souza, tão jovem quanto seus personagens. Todos se levam a sério demais sem parar de falar bobagens, exatamente como deve ser no começo da vida.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

REDE DE INTRIGAS

A fofocaiada na noite de São Paulo é tamanha que daria um filme de espionagem. Hoje está rolando uma campanha de contra-informação, espalhando pela cidade que a festa V.I.P. na Daslu foi cancelada. Pura balela: a festa está que nem a Regina Casé, vem com tudo. Meus informantes lá dentro dizem que a decoração está ficando belíssima e que o DJ Iordee, que desembrcou em SP hoje de manhã, posou para uma sessão de fotos e será o centro de um jantar no Buddha Bar, que fica no térreo da Daslu, logo antes da festa. Então vamos separando o modelito, muito laquê na peruca e diet Red Bull na veia, que depois ainda tem a Fête du Roi. Haja empolgação.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

RÁ-RÉ-RI-RÓ-RUA

Carrie Prejean, séria candidata a escrota do ano, não é mais Miss Califórnia. Há um mês que Donald Trump, dono deste e de vários outros concursos de miss, a confirmou no posto, apesar de terem surgido várias fotos dela nua, o que contraria as regras do certame. Foi uma clara provocação aos gays, cada vez mais furiosos com as posições homofóbicas de Carrie. Mas para tudo tem limite: ela faltou a tantos compromissos "oficiais" de seu mandato, que Trump perdeu a paciência e lhe confiscou a coroa. Como diria o Ludo Diniz, inspirado na freira malvada do "Terça Insana": eu rezo. E acontece.

ESAS SON PURAS MENTIRAS

A véspera do feriadão aqui em SP está a pior possível: chuvinha fina, trânsito caótico e um dia que se arrasta, não passa, não acaba. Mas claro que em parte da minha cabeca já está rolando um esquenta, ou melhor, um calentamiento - nessas horas prefiro algo mais swingado, para compensar a overdose de tribal dos próximos dias. O que está rolando na minha vitrola mental é "Mentiras", o novo sucesso dos Amigos Invisibles, minha banda latina favorita. Esses venezuelanos estão lançando o CD "Comercial", e fazem um som bem cafajeste, perfeito para a gente beber e ir entrando no clima. Gostou? Então clique aqui, e caliéntese você também.

terça-feira, 9 de junho de 2009

FALOU E DISSE

Conforme havia sido ventilado, Adam Lambert finalmente assumiu que é gay numa entrevista à "Rolling Stone" americana. Fez questão de ressaltar que quer apenas ser cantor, não um líder da militância gay. Mas disse uma coisa bem bacana: "Clay Aiken (que ficou em 2o. lugar na 2a. temporada do "American idol", mais tarde saiu do armário e recentemente andou se estranhando com Adam) é gay, e eu sou gay, e não podíamos ser mais diferentes. A única coisa comum a todos na comunidade gay é o fato de sermos gays... Porque não podemos falar sobre uma comunidade humana?" Ora, ora, ora. Não podemos porque, na imensa maioria dos países, os gays ainda são cidadãos de segunda classe. Que votam (onde podem) e pagam impostos (sempre), mas que ainda têm negados alguns direitos fundamentais - e isto quando não são simplesmente enforcados. Mas "Glambert" tem razão: dia chegará em que seremos todos iguais. Aí não precisaremos mais de uma Parada do Orgulho Gay, simplesmente porque ninguém mais terá vergonha de ser gay. Mas vamos fazê-la mesmo assim, e sem a culpa de estarmos apenas nos divertindo.

(Maaaais uma dica do Luciano, o incansável)

ZAHRA METADE

Nesta sexta acontecem as eleições presidenciais no Irã e, dada a minha fama de pé-frio, tenho até medo de dizer que estou torcendo com todas as minhas forças contra o Ahmadinejad. As pesquisas de opinião não são conclusivas, e apontam para um empate técnico entre o atual presidente e um de seus rivais mais liberais, Mir Moussavi. Mas acaba de rolar um lance capaz de definir a partida: a mulher de Mir, Zahra Rahnavard, chamou Ahmadinejad na chincha, como nenhum outro candidato teve o culhão de fazer. Ela diz que vai processá-lo se, em 24 horas, ele não pedir desculpas públicas por ter questionado suas credenciais acadêmicas num debate semana passada. Também o acusou de oprimir as mulheres, mentir desbragadamente e - coisa grave no Irã - trair a Revolução Islâmica. Seu marido promete indicar ministras e embaixadoras, algo inédito no país. Desnecessário dizer que Zahra irritou os conservadores, que acham que mulher tem mais é que ficar quietinha debaixo do chador. Mas também empolgou a mulherada, que é mais da metade do eleitorado, e a classe média urbana. Sexta-feira saberemos se deu certo.