quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

XÔ, 2009

Já é 2010 em cerca de metade do mundo, e daqui a algumas horas o Ano Novo também chegará ao Rio de Janeiro. A chuvinha fina que cai há mais de 24 horas está ameaçando parar. No litoral e na cidade de São Paulo o tempo já está bom; como o tempo por aqui costuma mudar do sul para o norte, é capaz de termos uma meia-noite sequinha. Tomara: vou para o apartamento de um amigo no Leme, e claro que iremos à praia pagar o King Kong de ver os fogos.Já disse aqui no blog, e repito: não vejo a hora desse ano acabar. Tive uma overdose de hospital em 2009. Meu irmão mais novo teve uma doença séria no primeiro semestre, mas graças a Deus já está ótimo. O pai do meu marido não teve a mesma sorte. Mas enfim, faz parte da vida, e claro que tenho milhões de coisas para agradecer. O melhor que me aconteceu foi começar a escrever na "Folha Ilustrada" e na "Women's Health": por isto, aqui vai um obrigado especial e um beijo enorme para as respectivas editoras, Sylvia Colombo e Mariliz Pereira Jorge. Também agradeço aos amigos e aos colegas de trabalho que me aguentaram mais um ano - todos prontos para mais um? E, claro, um obrigado do tamanho de um bonde aos leitores do blog, essa obsessão que me consome a vida. Vocês, que fazem com que a primeira coisa que eu faça de manhã, antes mesmo de ir ao banheiro, seja ligar o computador para ver os comentários que chegaram de noite. Um beijão para todo mundo, até o ano que vem, até amanhã.

O HOMEM-GLEE

Nick Pitera, de apenas 23 anos, já teve mais de um milhão de acessos no YouTube com sua versão de "Don't Stop Believin'" do Journey. O curioso é que ele canta a canção como na série "Glee": na forma de um dueto entre um rapaz e uma garota. É fenomenal e ligeiramente irritante. Também é a mensagem que eu quero passar para todo mundo nessa virada de ano. Em 2010, seja lá no que for, continue acreditando.

MUITO SUSPENSE PARA POUCO SEGREDO

O filme francês "Segredo em Família" começa muito bem. É uma superprodução de época, então cenários e figurinos são de encher os olhos. O elenco reúne alguns dos nomes mais quentes do cinema de lá no momento: Mathieu Amalric, Cécile de France, Ludivine Sagnier e o croissant em forma de homem que é Patrick Bruel. A atmosfera de mistério vai crescendo aos poucos: que segredo apavorante esconde aquela família aparentemente feliz? Afinal, eles são católicos ou judeus? Um longo flashback entrega a história toda, e ela é tão óbvia que eu matei muito antes da grande revelação. Não é um mau filme, mas entrega menos do que promete. Ou vai ver que eu que sou inteligente demais.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ÁGUA COM SABOR

O ano já está em seus estertores, mas ainda dá tempo de falar de mais uma banda-revelação. O nome do 3OH!3 lembra uma bebida levemente gaseificada, mas na verdade se refere ao DDI de Boulder, no Colorado, a cidade natal da dupla. Ano passado eles abriram os shows da Katy Perry na Europa, e agora chamaram a patroa para dividir os vocais de "Starstrukk", que pode ser baixada aqui. São bem bonitinhos, não? Gosto especialmente do magrão. E o som deles é refrescante, bem apropriado para o verão.

AVATARE-SE VOCÊ TAMBÉM

Quem precisa de efeitos especiais?

MEUS FILMES DE 2009

O cinema em 2009 para mim foi parecido com a música: não vi nada de transcendental, mas houve muitos bons filmes. Minha lista dos melhores do ano chegou a 30 títulos, que eu penei para reduzir a “apenas” 15. Cinema, já disse aqui, é minha religião. E estes foram os milagres do ano, em ordem decrescente de preferência:

MILK – O impacto do filme foi enorme sobre as bibas mais novinhas, que até então desconheciam a trágica história do pioneiro ativista gay. Chegou-se a falar em “Geração Milk”. Inspirador e contundente, com Sean Penn efetivamente transformado em outra pessoa.

RUDE E BREGA – Este só saiu em DVD, mas tive a sorte de assisti-lo num festival de cinema latino-americano em SP. Foi a maior bilheteria do ano no México, e tinha tudo para repetir o sucesso por aqui: futebol, música cafona e os salerosos Gael García Bernal e Diego Luna. Alugue ya.

BASTARDOS INGLÓRIOS –Alguns puristas reclamaram da maneira como Tarantino reescreve a 2a. Guerra Mundial. Mas este é um filme, antes de qualquer coisa, sobre o próprio cinema. Violentíssimo conforme o esperado, e mais sóbrio que de costume: that’s a bingo.

A PARTIDA – O vencedor do Oscar de filme estrangeiro me fez chorar lágrimas horizontais, dessas que espirram para fora do olho. Ao ver a maneira afetuosa com que os japoneses tratam seus mortos, me deu um desespero: porque não cobri meu pai de beijinhos? Porque não abracei minha avó?

QUEM QUER FICAR MILIONÁRIO? – Não é a maravilha absoluta que seus 8 Oscars deixam prever, mas é divertido e cheio de energia. Junto com a novela da Globo, serviu para deixar a Índia na moda o ano inteiro. A cena final na estação é antológica, e inspirou até a abertura do programa do Netinho na Record.

EL SECRETO DE SUS OJOS – Vi no Festival do Rio, entra em cartaz no Brasil em fevereiro. O diretor Juan José Campanella, do ótimo “O Filho da Noiva”, fez mais uma obra-prima, que mistura romance e trama policial de maneira inusitada. No se lo pierdas.

BRÜNO – Reclamar que o novo personagem de Sacha Baron Cohen é muito agressivo é um pouco como se queixar que o mar é molhado: lide com isto, bitch. “Brüno” detona as bichas conformadas e assexuadas, e vira o jogo na cara dos héteros. E ainda é chique no úrtimo.

AVATAR – Talvez o mais próximo a uma viagem interplanetária que eu farei na vida. Ou não: as novas tecnologias desbravadas por “Avatar” abrem inúmeras possibilidades para o cinema. No futuro, este filme de roteiro meio bobo – assim como o de “Titanic”, lembra? – provavelmente será visto como um divisor de águas.

É PROIBIDO FUMAR – Como é bom ver um filme brasileiro que passa longe da comunidade… O segundo longa de Anna Muylaert é engraçado, conciso, maduro, e traz uma Glória Pires simplesmente gloriosa. Tenho certeza que conheço Baby, sua personagem.

HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO – O tipo de filme que os franceses fazem como ninguém: roteiro sem afetações, produção baratinha, interpretações fortes. Aqui a estrela é Kristin Scott Thomas, que sai da prisão depois de 15 anos e tenta reconstruir a vida. A melhor atriz do ano.


SIMONAL – NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI
– O melhor documentário do ano, e já não era sem tempo: a música de Wilson SImonal precisava muito sair do ostracismo onde ficou nos últimos 30 anos. Uma história pungente, onde todo mundo me pareceu um pouco culpado, e todo mundo perdeu muito – inclusive o público.

EU MATEI MINHA MÃE – Esse também passou na Mostra, mas não tem previsão de estreia por aqui. Azar de quem não viu: um filme corajoso, que explora a complicada relação de amor e ódio que jovens gays têm com suas mães. O diretor/roteirista/ator Xavier Dolan é talentosíssimo, e uma gostosura.

EDUCAÇÃO – Ia se chamar “Sedução” quando estreasse em fevereiro, mas os exibidores resolveram mudar o título para algo mais próximo do original, “An Education”. Uma adolescente inglesa em 1961 tem um caso com um cara de 35, e aprende muito sobre o jazz, os cigarros e o sexo. Carey Mulligan vai ser inidcada ao Oscar.

ARRASTE-ME PARA O INFERNO – Uma volta no trem fantasma, com um susto atrás do outro. Deliberadamente trash, mas com muito humor. O diretor Sam Raimi se diverte a valer, com um orçamento muito mais modesto que os dos "Homem-Aranha". A cena da chupada de queixo já entrou para a história.

I LOVE YOU PHILIP MORRIS – Outro que eu vi na Mostra e só estreia no Brasil em 2010. Uma comedia frenética com lances dramáticos, e Jim Carrey sem medo de ser feliz – no sentido de gay, mesmo. Aliás, o filme é tão gay que está pronto há quase 2 anos e ainda não tem distribuidor nos EUA.

Agora que terminei me dei conta que a lista é muito esnobe, com muitas coisas que só passaram em mostras e não entraram em cartaz. Foda-se: quem gosta de cinema como eu corre atrás.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

NÓS SOMOS OS CAMPEÕES

Muitos paulistas não sabem, mas o Rio também tem sua White Party. Já há alguns anos que o americano Kevin, radicado na Maravilhosa faz tempo, promove uma boca-livre na semana entre o Natal e o Reveillon. A de 2009 aconteceu ontem, e eu me arrependi de não ter ido: nunca tive forças para me jogar todos os dias, ainda mais agora na cacurice. Mas todo mundo que foi falou bem. Dessa vez a festa se chamou "A Noite dos Campeões". Rolou no Clube de Regatas Guanabra, às margens da baía, e até passeio de barquinho teve. Também teve bebida grátis à vontade, garçons circulando com sanduíches e o tradicional sorteio de brindes. A frequência, como a similar paulistana, não é formada apenas por herdeiras: abundam os go-go boys, as michelles e as classes menos favorecidas. Mas, na porta, a poderosa Clarisse Miranda sabe muito bem quem botar pra dentro, e dessa forma o congraçamento é geral. O curioso é que o Kevin não está querendo promover nada, nem a si mesmo. Ele dá essa festa por puro prazer, e todo mundo sai ganhando.

MUITO OUTRA PRAIA

Ontem consegui arrastar meu marido Oscar para a praia, apesar dele ter ojeriza a sol, areia e banhistas em geral. Junto com nossos hóspedes, um amigo brasileiro e uma americana, tocamos para o Coqueirão de Ipanema. As ruas congestionadas e os estacionamentos lotados faziam prever uma grande muvuca na orla. Qual o quê: apesar do sol razoável, havia grandes faixas totalmente desertas, mas nas pouquíssimas barracas remanescentes já não havia mais guardassóis e cadeiras para alugar. É o tal do "choque de ordem" idealizado pela Prefeitura, que começou semana passada entre o Leblon e o Aropoador. O resultado, até agora, é bem ambivalente. Falta "mobiliário praiano", porque as barracas agora precisam se cadastrar e cumprir um monte de regras, o que no momento é negativo. Por outro lado, acabou a arenga constante dos incontáveis vendedores. Foi proibido o queijo coalho, que empesteava o ar: uêba! Mas também sumiu o mate de galão, um clássico desde a minha infância. Por quê tomar mate industrializado em copinho plástico, quando é uma delícia encher um copinho de papel metade com mate, metade com limão? Agora acabou-se a farra. Também acabou-se o frescobol, a peteca e o tiro ao alvo (rs). De qualquer forma, ainda é cedo para dizer se o saldo geral vai ser positivo. Acho que sim - contanto que o prefeito não queira uniformizar também as sungas e os biquínis.

MEUS PROGRAMAS DE 2009

Chega a ser engraçado pensar que, há até relativamente pouco tempo, muitos intelectuais torciam o nariz para a TV. Puxado pelos canais a cabo, o nível da programação americana subiu mais que o rio Capivari em época de chuva, e hoje é incontestável que os melhores roteiros estão na telinha, não na telona. Muitos atores que não tinham mais chance no cinema renasceram na TV, como a magnífica Glenn Close na série “Damages” – que não entrou nesta lista porque não tive tempo de assistir à 2a. temporada. Ainda bem que o DVD sai em janeiro. Aliás, viva o DVD, e o TiVo, e os downloads ilegais: eles nos livram da ditadura dos horários e dos comerciais das Casas Bahia.

Minha lista dos melhores do ano está curtinha, porque só incluí novidades, ou quase. Continuo assistindo “The Office”, “30 Rock”, “Os Simpsons”, “Saturday Night Live”, “Lost” e “Ugly Betty”. Tudo “enlatado” (êita termo fora de moda), porque, no Brasil, praticamente inexiste vida inteligente fora da Globo e seus canais Globosat. O “CQC” está cansando um pouco, não acham? E alguém sabe do paradeiro da MTV? Ela sumiu do meu radar. Enfim, meus poucos e bons são os seguintes:

TRUE BLOOD, HBO – A 2a. temporada da série da HBO leva fácil o título de melhor programa do ano, porque consegue dar um novo ímpeto a um tema batidíssimo, os vampiros. Sexy, engraçada e aterrorizante, “True Blood” ainda merece aplausos por trazer as mênades ao horário nobre – sacerdotisas de Apolo que realmente sabem como dar festas. Ainda não viu? Onde você estava em 2009? Numa câmara de isolamento sensorial?

MAYSA, QUANDO FALA O CORAÇÃO, Globo – Produção primorosa, interpretações mediúnicas e muita, muita música: “Maysa” apresentou a toda uma geração a maior cantora brasileira da virada dos 50 para os 60, que andava meio esquecida. A minissérie pecou nos diálogos pomposos, mas conseguiu resumir em apenas 9 capítulos uma vida pra lá de turbulenta. Ainda não me recuperei da reconstituição que o diretor Jayme Monjardim fez do pavoroso acidente que matou sua mãe.

GLEE, Fox – Alegria, alegria! Seria o típico “prazer culpado”, se tanta gente não tivesse embarcado nessa série musical. Já vimos as intrigas dos high schools americanos em trocentos outros filmes, mas nunca com tanto humor e rebolado. Torço sem piscar pela vilã Sue Sylvester, que teve as melhores falas do ano.

CAMINHO DAS ÍNDIAS, Globo – Não me interessava tanto por uma novela desde a época em que o Gilberto Braga era bom. Claro que o que me atraiu foi a temática indiana, com personagens fantasiados falando “hindiguês”. Mas a melhor trama se passava entre o Brasil e Dubai: Ivone, a vigarista psicopata. E olha que eu detesto a Letícia Sabatella.

BIG LOVE, HBO – Mais uma excelente série da HBO, que atingiu seu ápice na 3a. temporada. Os mórmons polígamos foram um pouco ofuscados pelos vampiros e monstros do mesmo canal, mas também são exóticos, eróticos e complicadíssimos. Num elenco sensacional o destaque vai para Chlöe Sevigny, a encucada esposa do meio.

IRRITANDO FERNANDA YOUNG, GNT – A escritora e roteirista moderninha criou uma persona televisiva muito mais ácida que a menina doce que se esconde atrás das tatuagens. Ainda bem que as duas convivem bem nesse programa levinho de entrevistas, que tem um defeito: é muito curto. Podia tranquilamente durar uma hora.

Pra terminar, sinto falta de mais canais internacionais no meu pacote. Houve um tempo em que eu tinha a RTP portuguesa e a América argentina, mas sumiram do seletor. Tenho que me contentar com os programas de auditório da Rai e o telejornal da Suíça romande

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

ONCE YOU ARE FLAMENGO

Não entendo a paixão que as pessoas têm por times de futebol. Os jogadores estão sempre mudando, só estão ali pelo dinheiro e trocam de camisa assim que surge uma oferta melhor. Por que então a torcida se mantém fiel ao clube? Nem pelo Brasil eu consigo torcer muito, durante Copas e similares. Nasci sem esse gene. Mas achei bem legal essa versão em inglês do hino do Flamengo, grande sucesso aqui no Rio. O cantor Leandrade morou anos no exterior e fez uma letra bem malandrex, nas rimas e tempos certos, e ainda transformou a música num rhythm'n'blues. É isso aí: just win, just win, just win.

MEUS DISCOS DE 2009

O ano não foi magnífico em termos musicais. Não ouvi nada que mudou minha vida, mas a esta altura isto é mais que improvável: meu gosto está cristalizado desde o século passado. Sim, adoro divas beeshas, suporto o rock cada vez menos e prefiro coisas alegres às soturnas. Como viajei pouco em 2009, minha lista está menos variada que a de anos anteriores. E continuo bravamente a comprar CDs físicos. Gosto de pegar no disquinho e na capinha, e depois perder tudo dentro do carro. Lá vão, em ordem mais ou menos decrescente de preferência, os meus 15 favoritos do ano: alguns bem manjados, outros super obscuros, todos próximos ao meu coração.

THE FAME MONSTER, Lady Gaga – O pacote indispensável de 2009. Praticamente uma coleção de “greatest hits”, porque quase todas as faixas fizeram sucesso, e outras estourarão ao longo de 2010. Agora é rezar para que o show “Monster Ball" passe pelo Brasil.

YES, Pet Shop Boys – Uma incrível volta à boa forma, depois de anos fazendo discos fraquinhos. A versão “deluxe” do álbum, com um CD extra de remixes e inéditas, é um pedacinho do paraíso. Isto sim que é envelhecer sem perder o rebolado.

COMERCIAL, Los Amigos Invisibles – A única coisa boa que a Venezuela tem a oferecer ao mundo é sua música pop, e os Amigos são a melhor banda de lá. Este é um disco animadérrimo, tropicaliente e sofisticado. Pena que no Brasil ninguém os conheça.

THE E.N.D., The Black Eyed Peas – O equivalente musical a um blockbuster hollywoodiano: muito efeito, muita produção, pouco conteúdo. Mas é diversão garantida do começo ao fim. “I Gotta Feeling” tocou tanto que nunca mais ninguém vai mais querer ver um flash mob.

SHE WOLF, Shakira – O primeiro album consistente de ponta a ponta da superstar colombiana, étnico e eletrônico ao mesmo tempo. Vendeu bem nos países hispânicos, mas flopou nos Estados Unidos: sinal de que a maré latina está se retraindo?

JUNIOR, Royksöpp – O terceiro trabalho dessa dupla norueguesa, especialista em melodias agradáveis e arranjos elaborados. Em 2010 lançarão “Senior”, mais instrumental e mais cabeça. Vou ser obrigado a gostar.

IT’S NOT ME, IT’S YOU, Lily Allen – A ex-enfant terrible amadureceu, parou de tomar porre no palco e lançou um disco de ótimas canções e letras contundentes, como a sutil “Fuck You”. Ainda fez um grande show no Brasil, transbordando energia.

THE BOY WHO KNEW TOO MUCH, Mika – A reencarnação de Freddie Mercury precisa crescer um pouco e parar de fazer canções sobre papai e mamãe, ou querer sempre parecer personagem de desenho animado. Mas seu 2o. disco é gostoso como uma fatia de pavê, e menos engordativo.

BEIJO BANDIDO, Ney Matogrosso – Para mim, o melhor disco brasileiro do ano. E bota brasileiro nisto: canções de várias épocas e estilos, gravadas com sensualidade e elegância pelo nosso maior intérprete. Com quase 70 anos, Ney ainda dá um caldo em vários sentidos.

HANDS, Little Boots – A Lady Gaga britânica? Talvez ofuscada pela usa equivalente americana, Victoria Haskell não causou por aqui o auê que merecia. Mas na Inglaterra entrou em todas as listas de melhores do ano, porque seu disco de estreia é mesmo espetacular.

ES IMPOSIBLE!, Miranda – Minha banda favorita da Argentina resolveu maneirar nos teclados e amplificar as guitarras. Deu no que deu: um disco bem mais fraco que o anterior. Mas, mesmo num dia ruim, o Miranda é melhor que 95% do resto do mundo. E “El Showcito” já está no meu panteão de clássicos.

DECLARATION OF DEPENDENCE, Kings of Convenience – Outros que conseguem fazer bons CDs mesmo ligados no piloto automático. Este novo trabalho é ainda mais suave e acústico que os anteriores. Perfeito para um dia de verão num fiorde da Noruega.

WOLGANG AMADEUS PHOENIX, Phoenix – Levou quatro discos, mas os americanos finalmente descobriram essa deliciosa banda francesa, que faz um rock-pop requintado. Um dos integrantes é casado com a Sofia Coppola, sempre uma embaixatriz do bom gosto.

NO HASSLE, Tosca – Como eu gosto de duplas eletrônicas, hein? Esses são austríacos e radicalizaram em 2009: fizeram um álbum todinho instrumental, quase “ambient”. Perfeito como papel de parede sonoro e recompensador se você quiser prestar atenção.

MENAGERIE, Nous Non Plus – O melhor disco francophone de 2009 foi feito por essa banda americana, que plagia o iê-iê-ê e a chanson francesas dos anos 60. Também fizeram para “Loli” um dos melhores videos do ano. Como resistir a um cantor chamado Jean-Luc Retard?

Ninguém é obrigado a concordar comigo.

domingo, 27 de dezembro de 2009

O JUÍZO FINAL

É muito feio julgar as pessoas. Como este blog não está participando de nenhum concurso de beleza, então agora vou julgar, condenar e até punir algumas das personalidades mais marcantes de 2009. A lista está em ordem crescente de bondade: começamos com os malvados que merecem o inferno, passamos pelo purgatório e no final atingimos o paraíso, habitado pelos santos modernos.

MAHMOUD AHMADINEJAD – Não basta ser um ditador sanguinário, nem um fanático religioso: o “presidente” do Irã também é um governante incompetente, que está levando seu país à ruína. Nada disso o impediu de ser recebido com afagos por Lula, no maior passo em falso da equivocada política externa petista. Quero só ver como o Brasil vai reagir quando a gang dos aiatolás for derrubada por uma revolução popular, o que pode acontecer em breve.

JOSÉ SARNEY – O potentado maranhense sempre tentou manter uma imagem afável e erudita, mas neste ano finalmente caíram as máscaras. Sarney é a encarnação de quase tudo o que está errado na política brasileira: corrupção, nepotismo, autoritarismo. O processo que sue filho moveu contra o jornal “O Estado de São Paulo” deixou claro que de democrata sua família não tem nada. O apoio incondicional que recebe de Lula é simplesmente imperdoável.

ROZÂNGELA ALVES JUSTINO – Numa pequena vitória para a causa gay brasileira, a feiticeira evangélica desistiu de tentar “curar” homossexuais, sob o risco de perder o registro de psicóloga. Ainda tentou se fazer de mártir, mas não nos deixemos enganar: a vilã é ela mesma, que, assim como milhares de outros, propaga uma mensagem de ódio e ignorância disfarçada de fé religiosa. Fogueira neles.

SILVIO BERLUSCONI – O premiê italiano falou grosserias às vontade, gastou dinheiro público com prostitutas e não teve o menor pudor em polarizar a já conturbada política de seu país. Quando levou o que merecia - uma catedralzada na fuça - medrou e começou a pregar a “tolerância”, tal qual o papa depois de ser atingido num strike na noite de Natal. Agora é tarde.

CARRIE PREJEAN – A loura burra para anedota nenhuma botar defeito. Quem mais teria coragem de se declarar contra o casamento gay em pleno concurso de miss, cercada de maquiadores, cabeleireiros e fashionistas por todos os lados? A ultra-direita americana ainda tentou fazer dela sua porta-voz. Mas, quando vazou um vídeo da ex-Miss Califórnia batendo siririca, os reaças se deram conta que ela não é exatamente um modelo de virtude. Bem feito.

CHRIS BROWN – Uns sopapos na namorada Rihanna serviram para descarrilhar a carreira de um dos rappers de maior sucesso nos EUA. O cara tem só 19 anos, mas virou o grande bicho-papão da violência doméstica, e viu seu novo disco vender bem menos que o esperado. Enquanto isto, sua ex amadureceu artisticamente e lançou um trabalho bem mais ambicioso que o pop chiclete de antes.

KANYE WEST – Outro rapper em apuros. Dominado pela arrogância e sentindo-se autorizado a fazer o que quiser, o talentoso Kanye achou que tudo bem interromper o discurso da chatinha Taylor Swift, que aceitava o prêmio de melhor vídeo feminino da MTV. Foi boicotado, teve a turnê com Lady Gaga cancelada e não recebeu nenhuma indicação ao Grammy. O pior é que tinha razão: “Single Ladies”, da Beyoncé, era mesmo muito melhor.

MANUEL ZELAYA – A figura política mais patética do ano. O presidente de Honduras tentou furar a constituição de seu país e concorrer à reeleição. Foi justamente deposto e injustamente exilado. Está há mais de 3 meses acampado na embaixada brasileira em Tegucigalpa, e agora não tem mesmo mais para onde ir – já existe um novo presidente eleito, que assume em janeiro. Todos os países condenaram o golpe de estado hondurenho, mas a verdade é que esta foi a primeira grande derrota do “bolivarianismo” no continente. Outras virão.

GEISY ARRUDA – Até que tentaram fazer dela uma líder feminista, mas o triste é que a rechonchuda Geisy é a típica aluna da Uniban: não tem nível, não tem preparo, é um bicho chucro. Agora só quer faturar, posar nua, virar apresentadora, fazer lipo e escova marroquina. Não é de se estranhar num país onde as concorrentes do “Big Brother” são os paradigmas da beleza e da elegância.

STEFHANY – A Cinderela piauiense, que gerou milhões de acessos no YouTube com um dos clips mais toscos de todos os tempos e arrancou lágrimas ao ganhar um CrossFox de verdade. E mesmo com fama e fortuna, ela mantém a autenticidade: não tirou o aparelho, não cortou o cabelão de crente, não deixou que o “Esquadrão da Moda” tocasse em seu visual xumbrega. Mas será que ela emplaca um segundo hit? Até agora, necas.

ADAM LAMBERT – Chegou em segundo lugar no “American Idol”, mas vendeu três vezes mais discos que o vencedor. E a razão é simples: Adam tem personalidade e atitude, coisa rara entre os participantes do maior sucesso da TV americana. É despudoradamente gay, e recusou-se a pedir desculpas por ter beijado um de seus músicos durante um programa. Pois é, a ousadia só faz efeito quando vem acompanhada pela dignidade.

MICHELLE OBAMA – O inevitável aconteceu: o mundo descobriu que Barack Obama não tem superpoderes, não consegue resolver todos os problemas só com charme e oratória, e que talvez até tenha sido eleito prematuramente. Mas sua mulher está batendo um bolão. Não deu um único passo em falso o ano inteiro, sempre linda, bem-vestida e radiante. Promove sessões de jazz na Casa Branca, apóia as causas certas e ainda consegue ser boa mãe. O retrato de uma América moderna e idealizada.

LADY GAGA – O ano foi dela, do começo ao fim. Um sucesso atrás do outro, uma roupa mais ousada que a outra, a primeira herdeira para valer ao trono de Madonna – e com as bençãos da própria. Dificilmente Stefani Germanotta vai conseguir manter o nível de hiperatividade de 2009, mas seu talento musical é verdadeiro, confirmado pelo excelente “The Fame Monster”. Ela só não pode nos cansar com suas esquisitices. Por enquanto ainda não cansou.

SUSAN BOYLE – A Cinderela escocesa. Em apenas 8 meses, essa quarentona virgem passou do total anonimato a maior vendedora de CDs do ano. Sua voz nem é tão especial assim e seu repertório o mais careta possível, mas sua história é irresistível. 130 milhões de pessoas viram no YouTube sua primeira aparição no programa “Britain’s Got Talent”. Uma superstar que explodiu pela internet, mas esticou seus 15 minutos de fama graças aos fãs desconectados.

YOANI SÁNCHEZ – A esquerda brasileira se faz de morta, surfando alto com a popularidade de Lula. Mas é criminosa ao ignorar a luta dessa blogueira cubana, que denuncia o horror do regime de Fidel e apanha por sua bravura e integridade. Yoani é um dos poucos pontos de luz numa América Latina que parece caminhar para as trevas.

Esqueci de alguém? Fui justo na minha classificação? Será que alguém vai mudar de lugar no ranking no ano que vai começar? Reclama aí.