
Será que já estamos vivendo na era pós- Parada? Não conheço uma só pessoa que diga que vai à Paulista no domingo à tarde: ou vão estar exaustas, ou se jogando nas últimas festas, ou voltando para suas terras natais. Depois da confusão do ano passado, que culminou com um assassinato na porta do Ritz, pouca gente parece disposta a arriscar a carteira e/ou o pescoço. Para aumentar o desinteresse, nenhum clube vai ter carro na avenida. Pela primeira vez, este ano provavelmente não baterá o recorde de espectadores do ano anterior. Como foi que a tão propagada “maior parada gay do mundo” entrou em decadência tão rápido?
Claro que as explicações são muitas. Para começar, todas as paradas do planeta passaram por períodos de inchaço e esvaziamento. Na Europa e nos EUA, elas não arrastam mais multidões às ruas, em parte porque muitas das reinvidicações da “causa” foram sendo pouco a pouco atendidas (por aqui não...). Mas a ferveção paralela continua, e este fenômeno está se repetindo em São Paulo.

Mas tem também uma razão tipicamente brasileira. Somos um país onde impera um apartheid social. Já ouvi muita gente boa dizendo que o "excesso" de drags esfarrapadas e a esculhambação geral não contribuem em nada para a aceitação dos gays pelo resto da sociedade. Há uma parte de preconceito nessa frase, mas também há uma dose de razão. Os mais discretos, os mais “normais”, não costumam desfilar, e quem já era homofóbico só reforça suas crenças hediondas. E aí gera-se um ciclo vicioso, com mais sujeira e mais violência e mais sujeira... Os organizadores e a Prefeitura prometeram dar um jeito – veremos.
Porque a Parada já é o maior evento turístico da cidade, superando o Grande Prêmio de Fórmula 1. São Paulo é um lugar de onde as pessoas fogem nos grandes feriados, mas no Corpus Christi os hotéis lotam e as lojas e boates faturam alto. E quer saber? A grana, o poder aquisitivo, é uma arma mais poderosa que qualquer discurso para a bicharada conquistar seus direitos.

Tudo isto para dizer que ainda não resolvi se vou à Parada no domingo. Moro ali perto e todo ano vou a pé; por outro lado, vou estar no bagaço; por outro lado, acho importante prestigiar; por outro lado, tenho medo de morrer… São tantos lados que acho que só vou decidir na hora. Alguém se habilita?