Caio Fernando Abreu e Hilda Hilst já eram muito amigos quando, ainda bem jovem, ele se refugiou na Casa do Sol, a fazenda da escritora em Campinas. Vivendo uma crise profissional e pessoal, Caio estava disposto a parar de escrever, mas Hilda, já quarentona e macaca velha, fez o colega mudar de ideia. Essa passagem da vida de ambos é contada na peça "Hilda e Caio", em cartaz no CCBB de São Paulo só até o dia 17. A Hilda vivida por Lavinia Pannunzio é uma figura solar, mas cheia de contradições. Diz uma coisa e no segundo seguinte admite que era mentira. Caio, papel de André Kyrmair, se diz muito experimentado, mas ainda é pouco mais do que um moleque. O embate entre esses dois semi-malditos da literatura brasileira tem momentos agressivos e outros muito engraçados, além de uma boa discussão sobre o ofício de escrever. Kiko Rieser, que acabou de ganhar o prêmio Bibi Ferreira de melhor dramaturgo por "Nasci para Sr Dercy", marca outro gol, com um texto bem construído e uma direção com ótimas marcações, que fogem do óbvio. Agora vou criar vergonha na cara e ler Hilda (Caio eu já li).
TONY GOES
RAINDROPS ON ROSES AND WHISKERS ON KITTENS
segunda-feira, 4 de dezembro de 2023
domingo, 3 de dezembro de 2023
A SUCURSAL DO INFERNO NA TERRA
Estive pela primeira vez na CCXP em 2017, para entrevistar aquele reizinho que se mata em "Game of Thrones". Fiquei apavorado com a lonjura do lugar, as enormes distâncias a serem percorridas lá dentro e o barulho infernal e incessante. No ano seguinte, ganhei convite VIP para a "spoiler night", e achei que seria mais sussa. Qual o quê: mesmo sem ainda estar aberta ao público em geral, a sucursal do inferno na Terra já estava abarrotada. Neste domingo voltei lá depois de cinco anos, para mediar a entrevista coletiva do elenco de "Monarch" para a Apple TV+. Lá estavam Kurt Russell, seu filho Wyatt e todo o elenco principal, além do showrunner e dois produtores. Não confraternizei com ninguém, mas todos foram simpáticos e profissionais, apesar de estarem respondendo às mesmas perguntas desde as 11 horas da manhã, para diferentes jornalistas e plateias. Saí de lá exausto e com uma dorzinha no coração: não cruzei nem de longe com o Timothée Chalamet, que veio promover o filme "Duna 2". Que inferno.
sábado, 2 de dezembro de 2023
ALAGOAS NO BURACO
Alagoas já teve políticios da estirpe de Teotônio Vilela ou mesmo Heloísa Helena. Hoje o segundo menor estado brasileiro é disputado pelos clãs de Arthur Lira e Renan Calheiros, ambos mais interessados em dilapidar o patrimônio público do que no bem-estar do povo alagoano. Mas que pelo jeito gosta de ser tratado feito mulher de malandro, tanto que se regozija com o poder desproporcional que seus parlamentares ostentam. Só que eum dia a conta chega. Boa parte da orla de Maceió na Lagoa do Mundaú pode desmoronar a qualquer momento, gra√as às cavernas deixadas pela Braskem ao longo de 40 anos de mineração de sal gema em área urbana. Talvez haja poucos morots, porque a polulação de cinco bairros já foi evacuada. Mas a capital pode ficar com uma cratera do tamanho do Maracanã, e um prejuízo bilionário. E já começou o jogo do empura: o honesto Lira quer empurrar a culpa toda para Lula, no poder há 11 meses. Falta muita gente nesse buraco.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2023
TIRA, GEORGE
Foi só a bancada bozista posar com o George Santos, o único parlamentar americano com quem eles conseguem conversar, para o sujeito ser cassado menos de um mês depois. Mas não se iludam: apesar da humilhação que sofreu, o alter ego de Kitara Ravache ainda vai se dar bem com essa história toda, pois sua vida de crimes e transgressões há de se tornar uma minissérie de TV. É curioso que os republicanos, que relutavam a expulsá-lo da Câmara por causa da tênue maioria de que dispõem, tenham mudado de ideia: deve ser por causa das pesquisas. Mas houve dois democratas que votaram pela permanência de nosso conterrâneo, alegando que esse decisão caberia ao povo. Pois é, deixa o povo decidir tudo, e ele irá coroar Donald Trump imperador por toda a eternidade.
BAIXINHA INVOCADA
Hoje de manhã teve coletiva de imprensa para a série "True Detective: Terra Noturna", que a HBO deve lançar em breve. Para não deixar pegada de carbono, lá fui eu de metrô e trem para o distante hotel J. W. Marriott. E cumpri meu objetivo: ver em carne e osso Jodie Foster, uma atriz que eu acompanho desde meus 14 anos de idade. Ela é igualzinha à que vemos na tela, mas um detalhe me chamou a atenção. Quando a entrevista acabou e Jodie ficou de pé sobre o palco, percebi que mesmo assim eu ainda era uma cabeça mais alto. Quando ela desceu a chão, aí ficou clara a tampinha que realmente é, algo não captado pela magia do cinema. Basta espiar no Google para descobrir que Jodie Foster mede 1,60m, mas ao vivo o impacto é outro. Na vida real, acho que Clarice Starling jamais seria aprovada pelo FBI.
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
O DERRADEIRO GIGANTE
Hoje morreu o último gigante do século 20, do tamanho de um Fidel Castro. Inclusive, com um legado polêmico que ainda será discutido por gerações: herói ou vilão? Nos oito anos em que passou como Secretário de Estado (ministro das relações exteriores) dos EUA, Henry Kissinger reatou com a China, acabou com a Guerra do Vietnã e conteve a expansão nucelar da União Soviética. Mas também patrocinou a instalação de ditaduras na América Latina, especialmente a chilena, e nunca hesitou em usar bombas como ferramenta diplomática. Na defesa dos interesses de seu país de adoção, causou a morte de milhares de pessoas. A seu favor, digamos que os tempos eram outros: hoje em dia, bem que muitos diplomatas gostariam de fazer o mesmo, mas não podem. Kissinger morreu aos 100 anos de idade, quatro meses depois de sua última viagem à China. Foi atuante e influente até o fim, e tão cedo não veremos ninguém como ele.
TORTURA NA TELA
Quando o diretor também é o roteirista, o filme costuma ficar imenso, porque o gênio do cinema não teve coragem de cortar nenhuma das cenas geniais que ele escreveu. Mas existe um problema ainda mais pernicioso: quando o roteiro se acha muito mais inteligente do que de fato é. Este é o caso de "Na Ponta dos Dedos", a estreia em língua inglesa de Christo Joanou, cujo "Maçãs" representou a Grécia no Oscar alguns anos atrás. Joanou foi assistente de Yorgos Lanthimos durante muito tempo, e é óbvio que ele também quer causar incômodo na plateia com toques surrealistas. Só que lhe falta o toque leve e o humor do mestre. A premissa de "Na Ponta dos Dedos" nem é das mais originais: um futuro próximo, um instituto de análises consegue dizer o quão compatível você é com seu namorado, evitando assim futuros divórcios. Mas, para isto, é preciso que cada um dos pombinhos tenha uma de suas unhas arrancadas a seco. Se alguém me pedisse para arrancar uma unha eu já mandava passear para sempre, mas a protagonista do filme faz isto várias vezes. Na dúvida entre dois caras - um deles é o Urso! - ela enche o saco dos dois e consegue com que o espectador torça contra ela, tão indecisa que é. Esta anti-comédia romântica é séria candidata a pior filme do ano.
quarta-feira, 29 de novembro de 2023
BYE BYE GUIANA?
Ditadores podem tudo, menos perder guerras. A exceção que confirma a regra foi Saddam Hussein, que invadiu o Kuwait em 1991, foi rapidamente derrotado pela coalização liderada pelos Estados Unidos e ainda permaneceu no poder por mais 12 anos, até ser capturado em 2003 e enforcado em 2006. Mas o vexame protgonizado pela Junta Militar argentina nas Malvinas, em 1982, selou o fim do regime. Nos dois casos, os déspotas queriam reconquistar para a nação uma parte que lhe pertencia "desde tempos imemoriais", para recuperar popularidade e continuar mandando. Agora é Nicolás Maduro quem tira do bolso a carta do Essequibo, algo que a ditadura chavista já fez algumas vezes. Quase todos os mapas da Venezuela na Venezuela mostram esse território, que corresponde a 75% da vizinha Guiana, como parte do país. De fato um dia foi, quase despovoado e sem a menor importância, até ser tomado pelos ingleses no século 19. Hoje a Guiana é o país que mais cresce no mundo, graças ao petróleo descoberto na mesma margem norte que o Brasil reluta em explorar. Os venezuelanos vão às urnas no ano que vem, e Maduro adoraria não ter que roubar mais esta eleição. Mas invadir um país vizinho? Sem o apoio da comunidade internacional? Por via de deixa-disso, o Brasil já concentra tropas na fronteira.
terça-feira, 28 de novembro de 2023
ATÉ TU, JANONINHO?
Qur dizer então que o deputado federal André Janones (Avante - MG) fez rachadinha em seu gabinete? Ele e a torcida da seleção brasileira, responderão os janonafetivos. A gravação em que ele pede textualmente a membros de sua equipe para que "contribuam" para o ressarcimento de seu patrimônio é um contorcionismo dos mais toscos, até porque ele se esquece de que todos são pagos com verbas de gabinete. Ou seja, dinheiro público, que não serve para resolver os problemas pessoais de quem quer que seja. Janoninho agora jura de pé junto que não foi nada disso, mas é óbvio que foi. Com essa denúncia, ele perde automaticamente qualquer autoridade para falar mal da familícia Biroliro. E se a maracutaia foi provada, Lula deve se afastar dele na velocidade da luz.
segunda-feira, 27 de novembro de 2023
CARNE REQUENTADA
O acidente aéreo com o time de rúgbi do Uruguai, 50 anos atrás, causou tamanha impressão que já rendeu pelo menos três filmes. A razão é simples: para sobreviver, os jogadores tiveram que consumir a carne (congelada) dos colegas mortos. Ethan Hawke estrelou uma versão de Hollywood em 1993, "Vivos!", da qual me lembro de quase tudo, tão bem feita que era. Por isto, ao ver "A Sociedade da Neve", tive a sensação de saborear um prato requentado. OK, agora pelo menos os atores todos falam espanhol, e os efeitos especiais avançaram muito nesses últimos 30 anos. Mas nada disso me convenceu muito; afinal, eu já sei como a história acaba. O longa de J. A. Bayona é o representante da Espanha no Oscar, entra em cartaz em breve e chega à Netflix já em 4 de janeiro. Vou dar outra chance: vai ver que sou eu que estou num dia ruim.
QUERIDA, CHEGUEI
Ao longo dos anos, Flávio Dino foi ficando cada vez mais parecido com seu xará Dino da Silva Sauro, o pater familias da "Família Dinossauro". Hoje em dia, toda vez que eu vejo o ministro de justiça, acho que ele vai soltar um "querida, cheguei!". E não é que Dino chegou mesmo? Ao STF. Ele era a primeira escolha de Lula, mas levou quase dois meses para ser confirmado no papel porque o presidente não sabe mais se vai ou se fica. Fico puto porque, como muita gente, eu queria uma mulher negra nessa vaga, mas Lula está mais preocupado em proteger o próprio bumbum do que fazer o bem pelo Brasil. Pelo menos, Flávio Dino é o next best thing: tecnicamente negro, sem papas na língua e sem medinho de meme de birolista. O Supremo vai virar um lugar mais animado, agora que ele chegou.
domingo, 26 de novembro de 2023
NAPOLEÃO À MODA INGLESA
Napoleão Bonaparte resiste a qualquer análise binária. Para os franceses, ele ainda é o maior herói de todos os tempos. Muitas avenidas de Paris são batizadas com nomes de seus generais ou das batalhas que ele ganhou. Para boa parte do mundo, o Código Napoleônico é a base da legislação moderna, varrendo para sempre os privilégios da nobreza e do clero. Para os ingleses, o corso foi o maior obstáculo no caminho do Império Britânico. E foi justamente o inglês Ridley Scott quem dirigiu esta versão "state of the art" da saga napoleônica, com Joaquin Phoenix no papel principal. O roteiro equilibra impressionantes cenas de batalha com o complicado relacionamento do imperador com Josephine. Também ignora que Napoleão reinstalou a escravidão nas ilhas francesas do Caribe, depois de ela ter sido cancelada pelos revolucionários. Mas insiste, nos letreiros finais, que as guerras napoleônicas ceifaram três milhões através da Europa, um recorde para a época. Saí do cinema sem estar emocionado nem com a sensação de ter aprendido muita coisa. Agora é a vez da França dar sua réplica.
sábado, 25 de novembro de 2023
VAI, FERNANDINHA
Fazia tempo que eu não prestava atenção à Fernanda Takai. Dois álbuns me afastaram dela: o solo em que ele regravou faixas do repertório de Nara Leão, que eu nunca consegui ouvir até o fim sem cair no sono; e aquele do Pato Fu em que eles tocam sucessos contemporâneos com instrumentos infantis. Mas ontem aceitei o convite de uma amiga que celebrou seu aniversário no Blue Note, aqui em São Paulo, assistindo ao show "Será que Você Vai Acreditar?". Foi um reencontro agradabilíssimo. Fernanda continua afiada como sempre, mas a doçura de sua voz, que pode ficar enjoativa. era contrabalançada por arranjos cheios de energia e um ótima presença no palco. A base da playlist são canções que ela já gravopu sozinha, com algumas siurpresa aqui e ali. Vai de "Pra Curar Essa Dor", fofa versão para "Heal the Pain" do George Michael a "Mom Amour, Meu Bem, Ma Femme" do Reginaldo Rossi, passando pela inevitável homenagem a Rita Lee, com "Menino Bonito". Agora não vou mais perdê-la de vista.
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
VAIDADE SEM CURA
Um casal de namorados leva uma vidinha normal, até que ele, artista plástico, começa a ficar famoso. Varada de inveja, ela inventa um jeito espantoso de chamar atenção: ficar muito doente. Descobre um analgésico russo que, se tomado em dosees cavalares, provoca horríveis irritações na pele. Dito e feito, mas o sonho da garota de virar uma superstar global não se concretiza. O que ela quer mesmo é que seu namorado admita que ela ficou mais célebre do que ele e se tornou uma fonte de inspiração, e que seu pai, a quem não vê há anos, retorne pedindo perdão. O mais divertido de "Doente de Mim Mesma", filme norueguês disponível no MUBI são os delírios da maluca, mas na vida real ela precisa de ajuda. E quem não precisa? Mas ela se recusa a cooperar...
LOBO EM PELE DE PACHECO
Aquele olhar de sonso, de quem só está 80% acordado, sugere uma pessoa afável e tranquila. Ledo engano. Rodrigo Pacheco não tem nada de bonachão. É um político como qualquer outro, i.e., coloca sua carreira acima de todos os interesses nacionais. Foi uma pesquisa realizada em Minas Gerais que o fez tirar o disfarce. Até seus próprios eleitores acham que ele "protege o Supremo". De olho na reeleição, o presidente do Senado encampou a PEC birolista que limita alguns poderes dos ministros do STF. Entre eles, as controversas decisões monocráticas - que já serviram para libertar traficante, mas também para barrar os impulsos autoritários do Edaír. E isto é só começo de um movimento para esvaziar ainda mais a corte e dar ainda mais poder ao Congresso. A tal da PEC agora pode levar meses para passar pela Câmara, servindo de bomba atômica na gaveta de Arthur Lira. E no final, se aprovada, ainda periga ser vetada... pelo Supremo. Pacheco é um homem altíssimo, mas se revelou minúsculo como ser humano.
quinta-feira, 23 de novembro de 2023
PARA VER A BANDA PASSAR
Meu primeiro contato para valer com "the Boys in the Band" foi através de três anos atrás, que reunia todo o elenco de uma recente remontagem na Broadway. O texto de Matt Crowly é um marco na história da viadagem: a primeira peça mainstream a abordar abertamente a homossexualidade masculina, escrita antes do levante de Stonewall, numa época em que ser gay dava justa causa. O sucesso se espalhou pelo mundo inteiro e a versão brasileira de 1970 tinha nomes como Walmor Chagas, Denis Carvalho e Paulo César Pereio, que devia fazer a bicha menos convincente de todos os tempos. Até onde eu sei, "Os Rapazes da Banda" nunca mais ganhou montagem profissional por aqui até agora. Está em cartaz em São Paulo uma versão que mantém o título original menos o "the", e é um programa obrigatório para qualquer biba que queira saber mais sobre sua ancestralidade. O elenco está todo bem, e a peça flui célere. Curiosamente, muito do texto não está datado, e vários dos dramas vividos por esses moços carentes de auto-estima são comuns até hoje. Todo mundo conhece na vida real pelo menos uns três desses personagens escritos há mais de 50 anos.
NÃO ME CONVIDARAM PRA ESTA FESTA POBRE
Se eu fosse o Lula, iria à posse do Milei, sem avisar a chancelaria argentina e muito menos a imprensa. Surgiria na Casa Rosada todo pimpão, com a Janja a tiracolo, os dois de trajes típicos. Ia ser um constrangimento geral, e um tapa de pelica na cara do Descabelado. Lula já deveria ter passado por cima dos insultos que seu futuro colega proferiu durante a campanha e fazer como o papa Francisco, que telefonou para dar os parabéns como se nunca tivesse xingado. Seria de uma superioridade olímpica, mas nosso presidente não tem sangue de barata. É uma pena, porque o melhor de tudo seria ver a cara apatetada do Bozo e seu séquito de 40 ladrões ao perceber que seu rival está causando mais frisson do que ele.
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
O FIM E O COMEÇO
Comecei a ver "Fim" só na semana passada, quase um mês depois dos primeiros episódios chegarem ao Globoplay. Hoje chegaram os dois últimos, já devidamente devorados. Li o livro de Fernanda Torres há exatos 10 anos, e me lembro vividamente de algumas cenas. De outras, não, o que me ajudou a aproveitar a minissérie como se eu não soubesse o que iria acontecer. Trata-se simplesmente do melhor produto da televisão brasileira em 2023, um ano em que os canais abertos pararam de inovar. Em "Fim", tudo funciona: o texto escrito pela própria Fernandinha, a direção de arte que atravessa várias épocas, a iluminação, a direção e, claro, os atores. Que atores. Todo mundo está bem, mas, para mim, dois se destacam: Bruno Mazzeo, que faz o mais cafajeste dos cinco amigos, e a divina Marjorie Estiano, a melhor de sua geração, como a complexa e sofrida Ruth. No fundo, "Fim" é uma meditação sobre o fim do patriarcado, vítima de si mesmo. Os protagonistas são homens que tinham tudo para ser plenamente felizes, mas não o foram porque se deixaram dominar pelas regras machistas. Ah, que saudade de 2013, quando realmente parecia que o domínio masculino sobre o mundo estava com os dias contados. A onda de extrema direita que ainda nos aflige, nada mais do que uma reação ao avanço dos direitos de mulheres, negros, gays e outros oprimidos, ainda nem havia começado.
RISE OF THE MACHINES
Começo a ler uma notícia sobre a saída de um CEO de qualquer empresa e logo já estou zzzzz roinc. Foi assim que eu reagi à demissão do Sam Altman, um sujeito do qual o burraldo aqui nunca tinha ouvido falar, da Open AI. Mas aí a história virou uma novela, com muitas idas e vindas, e deu até no "Jornal Nacional". Ao mesmo tempo, começaram a surgir notinhas dizendo que a humandiade corria perigo. Oi? Oem, finalmente esbarrei num longo fio no Twitter (aqui eu me recuso a falar X) que explica porque o desenvolvimento desenfreado da inteligência artificial pode, sim, desembocar no fim do mundo. E menos de 10 anos! Não, não é o plot de "O Vingador do Futuro", mas algo muito mais concreto e próximo do que nós imaginávamos. Se você souber inglês, leia o fio e se apavore.
terça-feira, 21 de novembro de 2023
THE JÁ ERAS TOUR
Taylor Swift construiu toda sua carreira se fingindo de amiguinha de seus fãs. A loirinha americana que sabe traduzir em música as ansiedades de seu público, e que estará sempre à mão quando a coisa apertar. Essa falsa intimidade desmoronou desde a morte de Ana Benevides, na sexta passada. Taylor correu ao Instagram para se declarar "arrasada", mas jamais pronunciou o nome da garota. Ainda avisou que não falaria do assunto em seus próximos shows no Rio. A princípio os swifties todos a apoiaram. Mas, quando ficou claro que uma das mulheres mais ricas do mundo não meteu a mão no bolso para ajudar a família de Ana, o clima foi virando aos poucos. Ontem, apesar do tempo bem mais fresco, não havia ninguém na frente do hotel Fasano, em Ipanema. Vou repetir: nin-guém. A falta de uma homenagem explícita nos shows de domingo e segunda também frustrou muita gente. Há toda uma explicação jurídica para este silêncio: tanto Taylor quando a Time for Fun podem ser processados nos EUA se manifestarem qualquer preocupação pelo ocorrido, pois isto pode ser interpretado como uma admissão de culpa. De qualquer forma, o estrago na reputação da loira aguada foi feito. Sua turnê foi rebatizada de Já Eras Tour nas redes sociais brasileiras, e este é o nome que ficará para a posteridade.
segunda-feira, 20 de novembro de 2023
DIADORIM NA IGREJA
Um padre morre, e aí descobrem que ele era mulher. Como que ela conseguiu ser odenada, e como viveu tantos anos de batina sem ser descoberta? A chanceler da diocese (advogada que cuida da papelada) resolve investigar. E, claro, bate de frente com os superiores do falecido, que não só querem manter tudo em segredo como usam os mesmos argumentos esfarrapados de sempre para justificar a exclusão das mulheres pela Igreja. "Jesus era homem, então só homem pode rezar missa". Quer dizer então que o pinto é mais importante do que a alma? A trama de "Disfarce Divino", que eu vi no Festival Varilux de Cinema Francês, é bastante original e traz um discussão que o
Vaticano gostaria de evitar. No papel principal está Karin Viard em mais uma atuação assombrosa - a atriz já faturou três prêmios César, e aposto que vem mais por aí. Bem cadenciado, combinando elementos folhetinescos com uma reflexão séria, o longa de estreia de Virginie Sauveur deve entrar em cartaz no Brasil em breve, e eu recomendo muito. Afinal, a principal razão pela qual eu deixei de ser católico é a proibição às mulheres de se ordenarem sacerdotes.
MUITA LETRINHA E NENHUMA DANCINHA
Tenho vontade de bater na cara de um por um desses tiktokers que leram a "Carta à América" escrita por Osama Bin Laden para justificar os atentados de 11 de setembro e agora dizem que ele tinha razão. Essa molecada, que se acha dona da verdade só porque nasceu depois da internet, não deve ter tido saco de ler a segunda parte da missiva - afinal, são muitas letrinhas e nenhuma dancinha. Lá, o finado líder da al-Qaeda dá um ultimato ao Ocidente. Ou todo mundo se converte à versão distorcida do Islã que ele prega, ou todo mundo morre. Essa visão prega o extermínio dos homossexuais, a repressão total à mulher e outros horrores que fariam desmaiar a galerinha que insiste que se fale "todes". Mal informados e arrogantes, os tiktokers são a versão mirim dos adultos de esquerda que acham que o Hamas é um grupo que prega a libertação a Palestina, e não uma organização extremista parecidíssima com a al-Qaeda. Vontade de deixar essa criançada toda uma semana sem telas nem sobremesa.
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