Se Sérgio Moro for mesmo defenestrado do Senado, vai rolar uma nova eleição. E periga que a sucessora do Conje seja justamente Micheque Biroliro, esta paranaense da gema, nascida e criada no estado e profunda conhecedora dos problemas de seus conterrâneos. O marido Edaír, verde de ciúme, garante que ela não vai se candidatar a nada, porque não está interessada em nenhum cargo. Mas o que ele fala não se escreve, e o PL quer fazer valer o polpudo salário que paga ao casal. Aí, já viu: ela vai povoar o gabinete com seus parentes desempregados, e cobrar rachadinha de todos eles. Mesmo assim oParaná, que reelegeu Ratinho Jr. como governador só porque ele é filho do Ratinho, é bem capaz de escolher Micheque como sua nova senadora. Não que São Paulo seja melhor, pois colocou no Palácio dos Bandeirantes um paulista da gema, nascido e criado no estado e profundo conhecedor dos problemas de seus conterrâneos.
TONY GOES
RAINDROPS ON ROSES AND WHISKERS ON KITTENS
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
VICUNHAS MODERNIZADAS
Nos meus tempos de publicitário, chamávamos de "vicunhada" qualquer anúncio que parecia ter sido feito mais para extorquir o cliente do que para aumentar suas vendas ou melhorar sua imagem. A origem da expressão foi uma caríssima campanha dos tecidos Vicunha, composta por esquetes inéditos que iam ao ar, um por dia, no intervalo entre o "Jornal Nacional" e a novela, lá pelo fim dos anos 80. O elenco era todo de estrelas da Globo, interpretando personagens clássicos das novelas da Globo. A coisa teve um enorme impacto na primeira semana. Depois as pessoas se acostumaram e por fim ignoraram, pois a campanha ficou meses no ar. Tive uma sensação parecida ao ver o novo comercial do Itaú. Foi preciso mesmo juntar Madonna, Ronaldo, Fernanda Montenegro, Jorge Ben Jor e Marta para anunciar que o banco atualizou seu logo? Aliás, qual é vantagem desse novo logo para o correntista? Vão cair os juros do cheque especial? Ao contrário, acho que vão subir, para pagar os cachês milionários desse elenco. Mas o fato é que o comercial está dando o que falar, e tem gente achando até que é um presságio de que a Celebration Tour virá mesmo ao Brasil. Que seja.
quinta-feira, 7 de dezembro de 2023
PATTY FARIA
Sempre tive o maior respeito e carinho pela Betty Faria. Ela, que namorava um amigo dos meus pais na época, deu a primeira roupinha quando nasceu meu irmão - algo de que eu fiquei sabendo só anos depois. Seus personagens na TV sempre transmitiram uma imensa humanidade. Já adulto, eu a conheci num jantar no Rio de Janeiro, e conversamos um pouco. Depois eu a defendi na minha coluna no F5, quando ela ousou ir à praia de biquíni com quase 80 anos idade. Mas essa admiração começou a esmorecer ste ano, quando sua filha Alexandra Marzo acusou a mãe de ser uma sociopata, e de oferecer bebida à neta Giulia (que mora com a avó), menor de idade. Agora tudo ruiu por terra, por causa do tuíte acima. Fiquei surpreso, porque Betty sempre foi uma pessoa de mente arejada, para dizer o mínimo. Mas agora ela faz parte da mesma turma que Regina Duarte e Cássia Kis.São os filhos do Bolsa Família que não fez controle de natalidade https://t.co/6vmZRWDDCd
— Betty Faria (@BettyFaria) December 6, 2023
quarta-feira, 6 de dezembro de 2023
DELÍRIOS IMATUROS
Quando eu tinha 12 anos, um colega de classe me convidou para um feriado em Ubatuba. Seria a primeira vez que eu viajaria sozinho, sem ninguém da família junto. O que revoltou meu irmão de oito anos: como assim, eu ia viajar e ele não? O coitadinho então resolveu que iria para Campos do Jordão e chegou a fazer uma malinha. Mas claro que ele ficou em São Paulo... Foi mais ou menos isto que que Nicolás Maduro fez ontem. Divulgou um novo mapa da Venezuela, nomeou um milico como governador provisório do novo estado da Guyana Esequiba e até deu um ultimato às petroleiras internacionais para saírem logo do território. Só faltou combinar com a Guiana, os guianeses, o Brasil e o resto do mundo. Tudo isso é teatro eleitoral, e o pior é que pode garantir a "reeleição" do ditador no ano que vem. Também periga gerar uma reação dos EUA, que não vão deixar Caracas ficar ainda mais rica em petróleo. No final do imbróglio ainda podem instalar uma base militar nas nossas barbas, algo que o Brasil abomina. Pelo menos Lula não está falando bobagem. Deixou o caso nas mãos do nosso serviço diplomático, um dos melhores do mundo.
SUBURRA INTERMINÁVEL
Fui fisgado pelo universo dos ciganos mafiosos com a primeira temporada de "Suburra: Sangue em Roma", da Netflix, que eu devorei em três dias. Acontece que a série se passa antes do filme "Suburra", que eu resolvi assistir em seguida. Aí vieram mais duas temporadas, a última já faz uns três anos, e eu não sei mais quem morreu e quem está vivo. Levei um susto quando vi que o spin-off "Suburra Eterna", recém estreado, tem como protagonista justamente Spadino Anacleti, o jovem cigano que esconde de seu clã o fato de ser gay. Agora, depois de um tempo em Berlim, onde arranjou um bofe de origem turca, ele está de volta a Roma, pouco se fodendo com o que pensam dele. E assume o comando de sua barulhenta família, que sofre um ataque de uma gangue rival e é despejada do palácio que habitava. O assunto de "Suburra Eterna" é o mesmo de sempre, a luta entre criminosos por mais poder e mais dinheiro. Dessa vez a cúpula do Vaticano entra com força na trama, na figura de um ardiloso cardeal que fala espanhol (um argentino? Não fica claro). A violência é extrema, com tiroteios em todos os episódios, e convém não se apegar a nenhum personagem, como em "Game of Thrones". Mas os roteiros são bem escritos, e eu já quero mais uma temporada. Que a suburra continue!
terça-feira, 5 de dezembro de 2023
UM NEGRO ENTRE AS LÍNGUAS EUROPEIAS
O Brasil se gaba, com razão, de sua imensa população, espalhada por um imenso território, falar uma língua só. No entanto, mesmo com mais de 95% dos brasileiros se comunicando em português, há algo entre 200 e 300 outros idiomas falados no país. A série "Línguas da Nossa Língua", criada e dirigida por Estevão Ciavatta e disponível na HBO Max, é fascinante, especialmente para quem tem na escrita seu modo de vida, como eu. Aprendi um monte de coisas que eu não sabia. Além das muitas línguas indígenas e algumas africanas, que não só sobrevivem como florescem, o programa também trata do pajubá, da linguagem inclusiva, de alguns falares locais que estão em vias de se tornar dialetos e até da Libras. Também conta como o galego medieval mudou de nome quando Portugal foi inventado, e pode mudar de nome de novo - para brasileiro, nhénhénhé. Com cenas gravadas aqui e além-mar, "Línguas da Nossa Língua" traz os últimos depoimentos de Nélida Piñón, além da participação de "scholars", pessoas comuns e esse ser iluminado que é Caetano Veloso, autor do verso que dá nome ao post.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2023
ESCREVER É PRECISO
Caio Fernando Abreu e Hilda Hilst já eram muito amigos quando, ainda bem jovem, ele se refugiou na Casa do Sol, a fazenda da escritora em Campinas. Vivendo uma crise profissional e pessoal, Caio estava disposto a parar de escrever, mas Hilda, já quarentona e macaca velha, fez o colega mudar de ideia. Essa passagem da vida de ambos é contada na peça "Hilda e Caio", em cartaz no CCBB de São Paulo só até o dia 17. A Hilda vivida por Lavinia Pannunzio é uma figura solar, mas cheia de contradições. Diz uma coisa e no segundo seguinte admite que era mentira. Caio, papel de André Kyrmair, se diz muito experimentado, mas ainda é pouco mais do que um moleque. O embate entre esses dois semi-malditos da literatura brasileira tem momentos agressivos e outros muito engraçados, além de uma boa discussão sobre o ofício de escrever. Kiko Rieser, que acabou de ganhar o prêmio Bibi Ferreira de melhor dramaturgo por "Nasci para Sr Dercy", marca outro gol, com um texto bem construído e uma direção com ótimas marcações, que fogem do óbvio. Agora vou criar vergonha na cara e ler Hilda (Caio eu já li).
domingo, 3 de dezembro de 2023
A SUCURSAL DO INFERNO NA TERRA
Estive pela primeira vez na CCXP em 2017, para entrevistar aquele reizinho que se mata em "Game of Thrones". Fiquei apavorado com a lonjura do lugar, as enormes distâncias a serem percorridas lá dentro e o barulho infernal e incessante. No ano seguinte, ganhei convite VIP para a "spoiler night", e achei que seria mais sussa. Qual o quê: mesmo sem ainda estar aberta ao público em geral, a sucursal do inferno na Terra já estava abarrotada. Neste domingo voltei lá depois de cinco anos, para mediar a entrevista coletiva do elenco de "Monarch" para a Apple TV+. Lá estavam Kurt Russell, seu filho Wyatt e todo o elenco principal, além do showrunner e dois produtores. Não confraternizei com ninguém, mas todos foram simpáticos e profissionais, apesar de estarem respondendo às mesmas perguntas desde as 11 horas da manhã, para diferentes jornalistas e plateias. Saí de lá exausto e com uma dorzinha no coração: não cruzei nem de longe com o Timothée Chalamet, que veio promover o filme "Duna 2". Que inferno.
sábado, 2 de dezembro de 2023
ALAGOAS NO BURACO
Alagoas já teve políticios da estirpe de Teotônio Vilela ou mesmo Heloísa Helena. Hoje o segundo menor estado brasileiro é disputado pelos clãs de Arthur Lira e Renan Calheiros, ambos mais interessados em dilapidar o patrimônio público do que no bem-estar do povo alagoano. Mas que pelo jeito gosta de ser tratado feito mulher de malandro, tanto que se regozija com o poder desproporcional que seus parlamentares ostentam. Só que eum dia a conta chega. Boa parte da orla de Maceió na Lagoa do Mundaú pode desmoronar a qualquer momento, gra√as às cavernas deixadas pela Braskem ao longo de 40 anos de mineração de sal gema em área urbana. Talvez haja poucos morots, porque a polulação de cinco bairros já foi evacuada. Mas a capital pode ficar com uma cratera do tamanho do Maracanã, e um prejuízo bilionário. E já começou o jogo do empura: o honesto Lira quer empurrar a culpa toda para Lula, no poder há 11 meses. Falta muita gente nesse buraco.
sexta-feira, 1 de dezembro de 2023
TIRA, GEORGE
Foi só a bancada bozista posar com o George Santos, o único parlamentar americano com quem eles conseguem conversar, para o sujeito ser cassado menos de um mês depois. Mas não se iludam: apesar da humilhação que sofreu, o alter ego de Kitara Ravache ainda vai se dar bem com essa história toda, pois sua vida de crimes e transgressões há de se tornar uma minissérie de TV. É curioso que os republicanos, que relutavam a expulsá-lo da Câmara por causa da tênue maioria de que dispõem, tenham mudado de ideia: deve ser por causa das pesquisas. Mas houve dois democratas que votaram pela permanência de nosso conterrâneo, alegando que esse decisão caberia ao povo. Pois é, deixa o povo decidir tudo, e ele irá coroar Donald Trump imperador por toda a eternidade.
BAIXINHA INVOCADA
Hoje de manhã teve coletiva de imprensa para a série "True Detective: Terra Noturna", que a HBO deve lançar em breve. Para não deixar pegada de carbono, lá fui eu de metrô e trem para o distante hotel J. W. Marriott. E cumpri meu objetivo: ver em carne e osso Jodie Foster, uma atriz que eu acompanho desde meus 14 anos de idade. Ela é igualzinha à que vemos na tela, mas um detalhe me chamou a atenção. Quando a entrevista acabou e Jodie ficou de pé sobre o palco, percebi que mesmo assim eu ainda era uma cabeça mais alto. Quando ela desceu a chão, aí ficou clara a tampinha que realmente é, algo não captado pela magia do cinema. Basta espiar no Google para descobrir que Jodie Foster mede 1,60m, mas ao vivo o impacto é outro. Na vida real, acho que Clarice Starling jamais seria aprovada pelo FBI.
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
O DERRADEIRO GIGANTE
Hoje morreu o último gigante do século 20, do tamanho de um Fidel Castro. Inclusive, com um legado polêmico que ainda será discutido por gerações: herói ou vilão? Nos oito anos em que passou como Secretário de Estado (ministro das relações exteriores) dos EUA, Henry Kissinger reatou com a China, acabou com a Guerra do Vietnã e conteve a expansão nucelar da União Soviética. Mas também patrocinou a instalação de ditaduras na América Latina, especialmente a chilena, e nunca hesitou em usar bombas como ferramenta diplomática. Na defesa dos interesses de seu país de adoção, causou a morte de milhares de pessoas. A seu favor, digamos que os tempos eram outros: hoje em dia, bem que muitos diplomatas gostariam de fazer o mesmo, mas não podem. Kissinger morreu aos 100 anos de idade, quatro meses depois de sua última viagem à China. Foi atuante e influente até o fim, e tão cedo não veremos ninguém como ele.
TORTURA NA TELA
Quando o diretor também é o roteirista, o filme costuma ficar imenso, porque o gênio do cinema não teve coragem de cortar nenhuma das cenas geniais que ele escreveu. Mas existe um problema ainda mais pernicioso: quando o roteiro se acha muito mais inteligente do que de fato é. Este é o caso de "Na Ponta dos Dedos", a estreia em língua inglesa de Christo Joanou, cujo "Maçãs" representou a Grécia no Oscar alguns anos atrás. Joanou foi assistente de Yorgos Lanthimos durante muito tempo, e é óbvio que ele também quer causar incômodo na plateia com toques surrealistas. Só que lhe falta o toque leve e o humor do mestre. A premissa de "Na Ponta dos Dedos" nem é das mais originais: um futuro próximo, um instituto de análises consegue dizer o quão compatível você é com seu namorado, evitando assim futuros divórcios. Mas, para isto, é preciso que cada um dos pombinhos tenha uma de suas unhas arrancadas a seco. Se alguém me pedisse para arrancar uma unha eu já mandava passear para sempre, mas a protagonista do filme faz isto várias vezes. Na dúvida entre dois caras - um deles é o Urso! - ela enche o saco dos dois e consegue com que o espectador torça contra ela, tão indecisa que é. Esta anti-comédia romântica é séria candidata a pior filme do ano.
quarta-feira, 29 de novembro de 2023
BYE BYE GUIANA?
Ditadores podem tudo, menos perder guerras. A exceção que confirma a regra foi Saddam Hussein, que invadiu o Kuwait em 1991, foi rapidamente derrotado pela coalização liderada pelos Estados Unidos e ainda permaneceu no poder por mais 12 anos, até ser capturado em 2003 e enforcado em 2006. Mas o vexame protgonizado pela Junta Militar argentina nas Malvinas, em 1982, selou o fim do regime. Nos dois casos, os déspotas queriam reconquistar para a nação uma parte que lhe pertencia "desde tempos imemoriais", para recuperar popularidade e continuar mandando. Agora é Nicolás Maduro quem tira do bolso a carta do Essequibo, algo que a ditadura chavista já fez algumas vezes. Quase todos os mapas da Venezuela na Venezuela mostram esse território, que corresponde a 75% da vizinha Guiana, como parte do país. De fato um dia foi, quase despovoado e sem a menor importância, até ser tomado pelos ingleses no século 19. Hoje a Guiana é o país que mais cresce no mundo, graças ao petróleo descoberto na mesma margem norte que o Brasil reluta em explorar. Os venezuelanos vão às urnas no ano que vem, e Maduro adoraria não ter que roubar mais esta eleição. Mas invadir um país vizinho? Sem o apoio da comunidade internacional? Por via de deixa-disso, o Brasil já concentra tropas na fronteira.
terça-feira, 28 de novembro de 2023
ATÉ TU, JANONINHO?
Qur dizer então que o deputado federal André Janones (Avante - MG) fez rachadinha em seu gabinete? Ele e a torcida da seleção brasileira, responderão os janonafetivos. A gravação em que ele pede textualmente a membros de sua equipe para que "contribuam" para o ressarcimento de seu patrimônio é um contorcionismo dos mais toscos, até porque ele se esquece de que todos são pagos com verbas de gabinete. Ou seja, dinheiro público, que não serve para resolver os problemas pessoais de quem quer que seja. Janoninho agora jura de pé junto que não foi nada disso, mas é óbvio que foi. Com essa denúncia, ele perde automaticamente qualquer autoridade para falar mal da familícia Biroliro. E se a maracutaia foi provada, Lula deve se afastar dele na velocidade da luz.
segunda-feira, 27 de novembro de 2023
CARNE REQUENTADA
O acidente aéreo com o time de rúgbi do Uruguai, 50 anos atrás, causou tamanha impressão que já rendeu pelo menos três filmes. A razão é simples: para sobreviver, os jogadores tiveram que consumir a carne (congelada) dos colegas mortos. Ethan Hawke estrelou uma versão de Hollywood em 1993, "Vivos!", da qual me lembro de quase tudo, tão bem feita que era. Por isto, ao ver "A Sociedade da Neve", tive a sensação de saborear um prato requentado. OK, agora pelo menos os atores todos falam espanhol, e os efeitos especiais avançaram muito nesses últimos 30 anos. Mas nada disso me convenceu muito; afinal, eu já sei como a história acaba. O longa de J. A. Bayona é o representante da Espanha no Oscar, entra em cartaz em breve e chega à Netflix já em 4 de janeiro. Vou dar outra chance: vai ver que sou eu que estou num dia ruim.
QUERIDA, CHEGUEI
Ao longo dos anos, Flávio Dino foi ficando cada vez mais parecido com seu xará Dino da Silva Sauro, o pater familias da "Família Dinossauro". Hoje em dia, toda vez que eu vejo o ministro de justiça, acho que ele vai soltar um "querida, cheguei!". E não é que Dino chegou mesmo? Ao STF. Ele era a primeira escolha de Lula, mas levou quase dois meses para ser confirmado no papel porque o presidente não sabe mais se vai ou se fica. Fico puto porque, como muita gente, eu queria uma mulher negra nessa vaga, mas Lula está mais preocupado em proteger o próprio bumbum do que fazer o bem pelo Brasil. Pelo menos, Flávio Dino é o next best thing: tecnicamente negro, sem papas na língua e sem medinho de meme de birolista. O Supremo vai virar um lugar mais animado, agora que ele chegou.
domingo, 26 de novembro de 2023
NAPOLEÃO À MODA INGLESA
Napoleão Bonaparte resiste a qualquer análise binária. Para os franceses, ele ainda é o maior herói de todos os tempos. Muitas avenidas de Paris são batizadas com nomes de seus generais ou das batalhas que ele ganhou. Para boa parte do mundo, o Código Napoleônico é a base da legislação moderna, varrendo para sempre os privilégios da nobreza e do clero. Para os ingleses, o corso foi o maior obstáculo no caminho do Império Britânico. E foi justamente o inglês Ridley Scott quem dirigiu esta versão "state of the art" da saga napoleônica, com Joaquin Phoenix no papel principal. O roteiro equilibra impressionantes cenas de batalha com o complicado relacionamento do imperador com Josephine. Também ignora que Napoleão reinstalou a escravidão nas ilhas francesas do Caribe, depois de ela ter sido cancelada pelos revolucionários. Mas insiste, nos letreiros finais, que as guerras napoleônicas ceifaram três milhões através da Europa, um recorde para a época. Saí do cinema sem estar emocionado nem com a sensação de ter aprendido muita coisa. Agora é a vez da França dar sua réplica.
sábado, 25 de novembro de 2023
VAI, FERNANDINHA
Fazia tempo que eu não prestava atenção à Fernanda Takai. Dois álbuns me afastaram dela: o solo em que ele regravou faixas do repertório de Nara Leão, que eu nunca consegui ouvir até o fim sem cair no sono; e aquele do Pato Fu em que eles tocam sucessos contemporâneos com instrumentos infantis. Mas ontem aceitei o convite de uma amiga que celebrou seu aniversário no Blue Note, aqui em São Paulo, assistindo ao show "Será que Você Vai Acreditar?". Foi um reencontro agradabilíssimo. Fernanda continua afiada como sempre, mas a doçura de sua voz, que pode ficar enjoativa. era contrabalançada por arranjos cheios de energia e um ótima presença no palco. A base da playlist são canções que ela já gravopu sozinha, com algumas siurpresa aqui e ali. Vai de "Pra Curar Essa Dor", fofa versão para "Heal the Pain" do George Michael a "Mom Amour, Meu Bem, Ma Femme" do Reginaldo Rossi, passando pela inevitável homenagem a Rita Lee, com "Menino Bonito". Agora não vou mais perdê-la de vista.
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
VAIDADE SEM CURA
Um casal de namorados leva uma vidinha normal, até que ele, artista plástico, começa a ficar famoso. Varada de inveja, ela inventa um jeito espantoso de chamar atenção: ficar muito doente. Descobre um analgésico russo que, se tomado em dosees cavalares, provoca horríveis irritações na pele. Dito e feito, mas o sonho da garota de virar uma superstar global não se concretiza. O que ela quer mesmo é que seu namorado admita que ela ficou mais célebre do que ele e se tornou uma fonte de inspiração, e que seu pai, a quem não vê há anos, retorne pedindo perdão. O mais divertido de "Doente de Mim Mesma", filme norueguês disponível no MUBI são os delírios da maluca, mas na vida real ela precisa de ajuda. E quem não precisa? Mas ela se recusa a cooperar...
LOBO EM PELE DE PACHECO
Aquele olhar de sonso, de quem só está 80% acordado, sugere uma pessoa afável e tranquila. Ledo engano. Rodrigo Pacheco não tem nada de bonachão. É um político como qualquer outro, i.e., coloca sua carreira acima de todos os interesses nacionais. Foi uma pesquisa realizada em Minas Gerais que o fez tirar o disfarce. Até seus próprios eleitores acham que ele "protege o Supremo". De olho na reeleição, o presidente do Senado encampou a PEC birolista que limita alguns poderes dos ministros do STF. Entre eles, as controversas decisões monocráticas - que já serviram para libertar traficante, mas também para barrar os impulsos autoritários do Edaír. E isto é só começo de um movimento para esvaziar ainda mais a corte e dar ainda mais poder ao Congresso. A tal da PEC agora pode levar meses para passar pela Câmara, servindo de bomba atômica na gaveta de Arthur Lira. E no final, se aprovada, ainda periga ser vetada... pelo Supremo. Pacheco é um homem altíssimo, mas se revelou minúsculo como ser humano.
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